Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

sábado, 15 de março de 2014


 

Por Morgana Mendonça Santos

"Visto não haver outro caminho de salvação a não ser o revelado no Evangelho e visto que, conforme o usual método de graça divinamente estabelecido, a fé vem pelo ouvido que atende à Palavra de Deus, Cristo comissionou a sua Igreja para ir por todo o mundo e ensinar a todas as nações. Todos os crentes, portanto, têm por obrigação sustentar as ordenanças religiosas onde já estiverem estabelecidas e contribuir, por meio de suas orações e ofertas e por seus esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por todo o mundo. Jo 14:6; At.4:12; Rom 10:17; Mt 28:19,20; ICor 4:2; II Cor 9:6,7,10." [CFW - XXXV, IV]

A necessidade de uma evangelização fundamentada na soberania de Deus é urgente nos nossos dias, a grande comissão (Mt 28.18-20) foi distorcida no que chamamos hoje de "evangelismo ritualístico", o reduzimos e corrompemos seu verdadeiro significado. Podemos hoje questionar a igreja com essa pergunta: Qual a parte do IDE você, cristão, não entendeu? O significado da palavra corrupção usado no título, se refere ao ato de degenerar, afastar de uma conduta reta ou possuir uma variante. O que vemos hoje é uma intrigante subtração dos métodos e dos conceitos sobre o que significa evangelismo bíblico. Devemos voltar as Escrituras, a teologia bíblica, redefinindo outra vez o sentido, o conceito da grande comissão e suas perspectivas bíblicas. "Missões" não é o alvo final da igreja, porque o propósito final da igreja não é o homem. O alvo final da igreja é a adoração a Deus, isso sim é o nosso propósito final, ou seja, torne Deus conhecido para que os homens possam adorá-Lo. (Sl 117.1) Missões não significa enviar missionários, significa levar a verdade de Deus, as boas novas, através de homens e mulheres pecadores regenerados que entende o sentido bíblico dessa grande comissão.

Reduzir o método de evangelismo em quatro leis espirituais ou formas de abordagens para declaramos alguém salvo diante de Deus é o maior estrago que a igreja tem feito nos últimos tempos. Chegar para alguém e "perguntar se ele é um pecador", "se ele quer ir para o céu", "se ele deseja fazer uma oração de cinco minutos" e depois confirmar se essa "oração foi feita com sinceridade" para declarar a salvação dessa pessoa é uma grande heresia. Mas você pode questionar dizendo que a própria Escrituras afirma que devemos somente receber a Cristo. De fato, precisamos entender o que significa receber a Cristo. A mensagem deve ser, "arrependei-vos e credes no Evangelho" (Mc 1.15), receber a Cristo pela fé através da sua irresistível Graça. (Ef 2.8) Esse método medíocre, leva a igreja de Cristo a viver confirmando "salvação" daqueles que simplesmente levantam a mão no meio do culto ou dizem que um dia já fizeram uma "oraçãozinha" pedindo para Jesus entrar no seu coração. Definitivamente, concordo com um pregador reformado que diz: Choremos pelas almas enganadas! Não é por esse tipo de evangelização que Deus manifesta a Sua graça e sim apesar dessa evangelização.

É nítido que boa parte desse movimento evangelístico moderno, ainda que a graça de Deus seja mencionada, não quer dizer que foi compreendida. Sustentam a idéia herética de que pela graça, todos os homens tem a habilidade de escolher acreditar e aceitar o evangelho. Precisamos como igreja quebrar alguns paradigmas, corrigir alguns falsos ensinos que corrompem inteiramente as doutrinas da graça. Contemplamos acréscimos, adições às Escrituras, a igreja foi envolvida numa esfera pragmática, "é verdade que não está na Bíblia, mas funciona", levando a igreja a uma prática evangelística não bíblica porém "válida" - dizem eles. O que temos hoje é um método influenciado por idéias pelagianas ou semipelagianas. Corrompendo sim o método, afirmando ser a graça apenas uma ajuda externa de Deus, um tipo de ação que persuade o homem pela razão, fazendo-o escolher através do seu livre-árbitro o que deve fazer ou não. Fazendo o homem um ser independente, afirmando a idéia que a fé não é um dom, e sim, uma obra meritória para levá-las à salvação. Podendo assim o homem fazer uma escolha por Cristo, dependendo apenas de sua própria vontade.

Infelizmente é perceptível que muito dos nossos métodos de evangelização provém dessa fraude, calcada em cima de princípios que reconhece o pecado original como simplesmente uma enfermidade moral. Defendendo com isso que o homem é aquele que dá o primeiro passo em direção a Deus. Notemos o sistema de apelo por decisões iniciado por Charles Finney, levando o homem a tomar uma decisão através de um convite, "pelagiando" assim o efeito da sua conversão. Esse semipelagianismo defendido por Arminio, trouxe em sua totalidade uma influência em quase tudo o que vemos hoje na área da evangelização. Essa visão é completamente incompatível com o pensamento reformado, a visão bíblica sobre a evangelização fundamentada na soberania de Deus. Muitos sem nunca nem ler sobre a teologia reformada, de forma brutal acusam os reformadores de estar alheio a evangelização.

E quem disse que a doutrina da eleição não leva a evangelização? Precisamos entender que a grande comissão na perspectiva dos Evangelhos e do livro de Atos esta completamente arraigada na soberania de Deus. Sendo assim, de forma soberana ligada aos meios da graça. A eleição não é uma motivação a passividade e sim para atividade. O próprio Calvino, que até hoje é rotulando avesso à evangelização (conheça a sua história) declarou que a evangelização não era opcional, era parte de ser do ser cristão. Não somos responsáveis pelos resultados da nossa evangelização, e sim, pela fidelidade da mensagem e pelos métodos que usamos. O crescimento vem de Deus conforme 1Co 3.6-8. Podemos exemplificar o que foi escrito na lápide do missionário David Livingstone: "Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las". Um missionário que se dispôs ir a África, em constante busca pelas ovelhas do Senhor. Precisamos de homens e mulheres, cristãos, que possam defender as antigas doutrinas da graça, um evangelho centralizado na soberania de Deus, o autor e consumador da nossa fé e da nossa salvação. (Hb 12.2)

A evangelização bíblica que precisamos voltar a saborear é aquela que procura a conversão de pecadores juntamente com o discipulado daqueles que já nasceram de novo. Vejamos como diz o livro A Tocha dos Puritanos de Joel Beek, "A tocha da evangelização foi acesa originalmente, no Velho Testamento. Acesa pelo próprio Deus na primeira promessa messiânica que Ele deu a Adão e Eva, lá no Éden." (Gn 3.15) A evangelização bíblica está fundamenta na soberania divina, dessa forma Deus demonstra que tem os meios para levar avante este projeto evangelístico. Escolhendo João Batista para transpor a tocha da evangelização à era do Novo Testamento, quando Jesus ressurge dos mortos, comissionando seus discípulos para um grande desafio que assegura seu sucesso. (Mt 28.18) Note que os meios que Deus usa na ação da Sua soberania são homens pecadores como nós. Nossa motivação consiste no mandamento do mestre. p. 14,15.

A soberania de Deus no ato de eleger não permite ao evangelista reformado ficar inerte a isso, contudo como Calvino que nunca foi contra a evangelização, entendia que essa evangelização não deveria ser da forma errada. Entendendo que devemos ir, cumprindo essa ordem para que o propósito final seja satisfeito, no caso, "fazer discípulos de todas as nações", por meio do ensino e batismo (Mt 28.19-20), precisamos encarar a realidade da grande questão: como devemos ir? A grande comissão foi ordenada para discípulos, portanto, só discípulos irão cumprir. Devemos ir não por uma motivação emocional ou ardor passageiro, não isentando o conhecimento teológico, o nosso sentido de urgência deve preceder um encontro como o do próprio Isaías (Is 6), como diz São Francisco de Assis: "Pregue o Evangelho e se possível use as palavras". É impossível uma evangelização sem teologia, creio que temos uma missão de evangelizar para evangelizarmos com a missão de ensinar tudo o que Jesus ordenou para que seja obedecido. (Mt 28.20) "Todo cristão ou é um missionário ou um impostor" Charles H. Spurgeon.

Voltemos ao Evangelho, às Escrituras, Soli Deo Glória.

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Morgana Mendonça dos Santos, Recifense, Cristã Reformada, Missionaria, pecadora remida pela Graça.

Divulgação: Bereianos
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por Leonardo Dâmaso


Uma crença que foi amplamente difundida pelo movimento de batalha espiritual americano a partir da década de 60, e que se tornou muito popular no meio evangélico pentecostal e neopentecostal são os famosos "espíritos do adultério, de prostituição, da embriaguez e dos vícios". É muito comum vermos pastores e cristãos pentecostais e neopentecostais com o hábito de orar no seu dia a dia caso se deparem com alguma situação que seja necessário a “repreensão ou a amarração” destes “espíritos malignos”. Vemos também nos “cultos de libertação”, “orações de guerra” em forma de “chavões ou jargões”, do tipo: espírito do adultério, de prostituição, da embriaguez e dos vícios - saia desta vida para nunca mais voltar! 

Quem nunca presenciou, viu e ouviu alguém fazer uma “oração” desse tipo? Acredito que todos nós! Todavia, se estudarmos as Escrituras, especialmente o Novo Testamento diligentemente e meticulosamente, iremos perceber que  não existe um texto sequer que aponte que adultério, prostituição, embriaguez e vícios de todo o tipo sejam espíritos malignos. Em contrapartida, os mesmos são classificados por Paulo em Gálatas 5.19-21 como “obras da carne”, isto é, pecados oriundos da nossa própria natureza pecaminosa, e não espíritos malignos (para inveja, que também é um pecado, e não um espírito maligno, veja 1Pe 2.1).
Augustus Nicodemus Lopes corrobora que os demônios denominados pela batalha espiritual como sendo demônios da lascívia, do ódio, da vingança, da embriaguez, da inveja e assim por diante, não aparecem no Novo Testamento. Essas coisas são, na verdade, as obras da carne mencionadas por Paulo em Gálatas 5.19-21. A solução para esses pecados não é expulsar demônios que supostamente os produzem, mas arrependimento, confissão e santificação.

Senão vejamos o que Tiago diz acerca deste assunto.
 
"Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça [e não por demônios primariamente, porém estes podem influenciar na tentação em segundo plano] sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte." - Tiago 1.14-15 (NVI)

Paulo, por sua vez, escreve:

"Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça?" Romanos 6.16 (NVI)

Vejamos ainda outro exemplo descrito por Paulo que irá elucidar melhor a nossa compreensão.
 
"Por toda parte se ouve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre os pagãos, a ponto de alguém de vocês possuir a mulher de seu pai. E vocês estão orgulhosos! Não deviam, porém, estar cheios de tristeza e expulsar da comunhão aquele que fez isso? Apesar de eu não estar presente fisicamente, estou com vocês em espírito. E já condenei aquele que fez isso, como se estivesse presente. Quando vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor." 1 Coríntios 5.1-5 (NVI)

Vemos que, não somente nas cartas de Paulo, mas em todo o Novo Testamento, os escritores bíblicos enfatizam muito mais a questão de pecados da carne ao invés de espíritos malignos ou possessão, haja vista que existem casos de possessão e de espíritos malignos atuando na vida de uma pessoa. Conforme é dito no texto, um jovem que fazia parte da igreja de Corinto estava mantendo relações sexuais com a mulher de seu pai, isto é, a sua madrasta, diz Paulo.

Apesar deste pecado, o apóstolo não disse que este jovem estava possuído ou influenciado pelo espírito da imoralidade, e, tampouco, ordenou que fizessem uma oração de libertação com imposição de mãos neste jovem, mas que o entregassem a Satanás; ou seja, que ele fosse expulso da comunhão da igreja para ser disciplinado por Deus através de Satanás, se arrependesse do seu pecado e retornasse a fé. A imoralidade ou a fornicação, contudo, é um pecado grave contra o nosso corpo, que é o templo do Espírito Santo (veja 1 Cor 6.18-20).

Entretanto, apesar do adultério, prostituição ou fornicação, embriaguez, vícios e inveja serem pecados da carne, contudo, a pessoa que prática estes pecados pode vir dar ocasião aos espíritos malignos para atuarem em sua vida, uma vez que eles [os espíritos malignos] podem, depois que a pessoa cedeu a sua vontade pecaminosa a estes pecados, influenciá-la e escravizá-la nestes e em outros pecados.

"'Quando vocês ficarem irados, não pequem'. Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha, e não deem lugar ao diabo." Efésios 4.26-27 (NVI)

Concluímos, então, que, as supostas “orações de libertação” que muitos pastores e cristãos fazem expulsando os espíritos do adultério, prostituição, embriaguez e dos vícios, e o também famoso espírito da depressão [que é um transtorno ou uma doença mental, e não um espírito maligno] é antibíblico e, portanto, uma prática que deve ser diametralmente rejeitada.

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Nota:  
1. Augustus Nicodemus Lopes. O que vocêprecisa saber sobre Batalha Espiritual, pág 69.

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Fonte: Bereianos

sábado, 8 de março de 2014


 

Por Juliano Heyse


Os famosos cinco pontos do Calvinismo foram propostos originalmente por João Calvino, o grande reformador francês, certo? Errado. Se você pudesse voltar no tempo e perguntasse a Calvino quais são os 5 pontos, ele não teria a menor chance de acertar. Afinal os 5 pontos foram estabelecidos mais de 50 anos após sua morte. E isso não ocorreu em Genebra, nem na França, e sim na Holanda. E é para lá que temos que voltar nossa atenção, mais precisamente para a cidade de Dordrecht.

Contexto histórico

Antes, porém, convém nos situarmos no tempo. Em 1517, Lutero publica as 95 teses (o início da Reforma Protestante). Quatro anos depois ele é "convidado" a se retratar na Dieta de Worms e lá ele faz o rompimento definitivo com a igreja católica, atrelando sua consciência à Palavra de Deus. Mais tarde, em 1536, na cidade de Genebra, Calvino publica a primeira edição das Institutas da Religião Cristã - a melhor e mais completa sistematização da doutrina protestante até então. Aperfeiçoamentos ocorreram e a edição definitiva só foi fechada 23 anos depois, em 1559. Em 1564, Calvino morreu. Lutero já havia morrido, antes, em 1546. Os dois mais importantes reformadores já não viviam mais sobre a terra quando a nossa história começou.

Quanto a Armínio, muitas pessoas pensam que ele e Calvino travaram calorosos debates em que se digladiavam ferozmente em defesa das suas respectivas posições. Não seria totalmente impossível, mas considerando-se que Armínio tinha quatro anos de idade quando Calvino morreu, não parece razoável imaginar tal quadro. A verdade é que eles jamais se conheceram.

Igreja Reformada Holandesa

Mas vamos à nossa história. Voltamos a nossa atenção para a Holanda, que na época era conhecida como Países Baixos (o território que hoje é ocupado por Bélgica, Holanda e Luxemburgo). É lá que toda a trama acontece. Na época da Reforma o Rei da Espanha, Filipe II, governava os países baixos. O crescimento do protestantismo foi severamente coibido com fortíssimas perseguições e mortes. Estima-se que dezenas de milhares de protestantes foram mortos pelos dirigentes católicos que governavam o país.

A revolta contra os espanhóis foi crescendo até que Guilherme de Orange conseguiu, depois de muitas tentativas, conquistar a tão sonhada independência, mais tarde consolidada por seu filho Maurício de Nassau. Surgia uma nova nação protestante já que o país era, naquela época, de maioria calvinista. Os novos líderes resolveram adotar a religião reformada como religião oficial, utilizando-a como elemento de integração e estabilidade do novo país. Todos os oficiais da igreja reformada holandesa tinham que jurar seguir a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg.

É importante ter em mente a forte ligação entre o estado e a igreja, comum nos tempos da reforma. Só que na Holanda as igrejas tinham uma autonomia relativamente grande, podendo nomear seus oficiais e exercer disciplina sobre os membros. Isso perturbava alguns membros do Estado. Em 1591, uma comissão, presidida por Johannes van Oldenbarnevelt e James Arminius, propôs uma estrutura mais ao gosto do poder secular: a escolha de oficiais da igreja passaria a ser feita por um grupo de representantes (quatro do Estado e quatro da igreja). Isso permitiu uma ingerência muito maior do Estado nos assuntos da igreja. Esta situação - a história mostra - costuma causar problemas. Levando-se em conta que outras religiões eram meramente toleradas (mas não tinham nem o direito de ter seus próprios templos), muitas pessoas vieram para a igreja, cuja vinda não teria ocorrido caso a igreja não fosse oficial do Estado holandês. Repetia-se algo como nos tempos do imperador romano Constantino - a igreja passava a atrair pessoas não regeneradas, muitas vezes com segundas intenções.

A Controvérsia Arminiana

Nessas condições, favoráveis por um lado, mas perigosas por outro, é que surgiu a Controvérsia Arminiana. Duas questões foram levantadas na época - uma doutrinária e outra de política eclesiástica. Primeiro: O ensino de James Arminius era compatível com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg? Afinal, todos os oficiais da igreja haviam se comprometido a permanecerem fiéis a ambos os credos. Segundo: Caso o ensino não estivesse de acordo, a igreja reformada teria poder para destituir aqueles que pregavam doutrinas que conflitavam com aqueles credos?

A questão da autoridade tornou-se problemática porque o governo insistia em manter nos ofícios eclesiásticos pessoas que a igreja considerava que deviam ser destituídas. Dessa forma, entre 1586 e 1618 aumentou muito o número de ministros que permaneciam nas igrejas contra a vontade da congregação e das assembléias eclesiásticas. As igrejas, intranqüilas, exigiam a convocação de um sínodo nacional para esclarecer a situação. Mas o governo central temia o crescente poder das igrejas reformadas e insistia em não permitir a convocação do sínodo.

Foi em meio a tudo isso que James Arminius surgiu - um personagem controverso. Era considerado até pelos seus opositores como sendo um pastor fiel, bom cristão, sóbrio, moderado, homem sincero e de raras habilidades intelectuais. Mas é difícil não concordar com a principal acusação que ele sempre carregou: era um homem que sofria de uma certa "duplicidade". Isso ficará claro quando analisarmos a sua história nos próximos parágrafos.

James Arminius

Armínio nasceu em 1560, no sul da Holanda. Estudou em Genebra com Beza, o sucessor de Calvino. Tornou-se ministro em Amsterdam em 1588. Não foram seus escritos, mas sim sua pregação que começou a chamar a atenção por não parecer muito ortodoxa. Ele decidiu fazer uma pregação expositiva no livro de Romanos. Sua interpretação de boa parte dos primeiros textos do livro surpreendeu seus ouvintes. Mas foi no capítulo 7 que ele trouxe sobre si uma avalanche de protestos. O texto de Romanos 7:14-15 diz: "Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.". Armínio propôs que esse texto se referia a uma pessoa não regenerada, contrariando o que os principais exegetas reformados sempre defenderam, ou seja, que Paulo falava sobre si mesmo, na condição de cristão. Ao pregar em Romanos de 8 a 11, ele enfatizou o tempo todo o livre arbítrio do homem e ao chegar a Romanos 13, afirmou que o Estado tinha a suprema autoridade em assuntos eclesiásticos e religiosos.

Por conta de tudo isso, um de seus colegas, Petrus Plancius, registrou denúncia contra ele para que ele fosse investigado pelo consistório. Havia rumores sobre o novo ensino em todo o país. Armínio, no entanto, confirmava pleno compromisso com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg. No entanto, ficava cada vez mais evidente que ele tinha problemas com o artigo 16 da confissão, o qual afirmava a doutrina da eleição.

Em 1602 surgiu uma vaga na famosa Universidade de Leiden, para suceder um de seus principais professores de teologia, morto pela praga que assolava a Holanda naquele ano. Alguém indicou o nome de James Arminius para sucedê-lo. Havia uma preocupação quanto à ortodoxia de Armínio, e portanto a sua aceitação foi condicionada a uma entrevista com o Dr. Franciscus Gomarus sobre os pontos chaves da doutrina. Gomarus era um famoso Calvinista, profundo conhecedor da Palavra. Diante de diversos comissários, Armínio rejeitou publicamente diversas doutrinas pelagianas quanto a graça natural, livre arbítrio, pecado original e predestinação. Também prometeu jamais ensinar qualquer coisa em desacordo com a doutrina oficial das igrejas. Assim sendo, ele foi aceito como Professor de Teologia da Universidade de Leiden.

Em suas aulas públicas, Armínio permaneceu firme nas suas promessas. Mas em aulas particulares, a alunos selecionados, ele expressava francamente suas dúvidas e questionamentos. Esses alunos foram fortemente influenciados por ele e começaram a propagar alguns desses ensinamentos. Por onde iam, questionavam a doutrina reformada, atacando-a de diversas formas.

Armínio permanecia afirmando estar em pleno acordo com a doutrina reformada enquanto disseminava seus novos pontos de vista nos bastidores. Seus adversários o condenam fortemente por demonstrar absoluta falta de caráter fazendo um tipo de "jogo-duplo". Ao mesmo tempo, seus defensores o elogiam dizendo que tudo o que ele fez foi pensando sempre na unidade da universidade e das igrejas. O leitor pode decidir por si mesmo.

Arminius versus Gomarus

A intranqüilidade aumentava e em 1607 o sínodo da Holanda do Sul recebeu queixas contra os ensinamentos de Armínio. O sínodo convocou James Arminius e o colocou mais uma vez frente a frente com Franciscus Gomarus e os dois expuseram e compararam seus pontos de vista. Mais uma vez Armínio alegou total fidelidade à Confissão Belga e como os delegados não conseguiram perceber grandes diferenças entre o que foi exposto por Arminius e por Gomarus, recomendaram que houvesse tolerância mútua. Outra conferência foi convocada em 1609, também não redundando em avanços. Naquele mesmo ano Armínio morreu de tuberculose.

Os Cinco Artigos do Arminianismo

Com a morte de Armínio, sua causa passou a ser liderada por Johannes Uitenbogaard e Simon Episcopius. Em 1610, sob a liderança de Uitenbogaard, os arminianos se reuniram e elaboraram uma representação (remonstrance - por isso são conhecidos até hoje como os remonstrantes). Nela os arminianos atacavam algumas doutrinas calvinistas e estabeleceram 5 artigos com suas próprias posições:

1. A eleição está condicionada à previsão da fé.
2. Expiação universal (Cristo morreu por todos os homens e por cada homem, de forma que ele conquistou reconciliação e perdão para todos por sua morte na cruz, mas só os que exercem a fé podem gozar desse benefício).
3. Necessária a regeneração para que alguém seja salvo (aparentemente, uma visão perfeitamente ortodoxa, mas mais tarde ficou claro que a visão deles era tal que negava fortemente a depravação da natureza humana).
4. A possibilidade de resistir à graça.
5. A incerteza quanto à perseverança dos crentes (mais tarde eles deixaram claro que não criam de forma alguma na garantia da perseverança).

Os artigos foram assinados por 46 ministros.

Os calvinistas responderam com uma reafirmação da doutrina calvinista. Formou-se o grupo conhecido na história como os contra-remonstrantes. Isso ocorreu em 1611.

A convocação do Sínodo

O poder público não ficou indiferente à controvérsia que ganhava contornos cada vez mais perigosos. Havia pessoas que estavam utilizando a controvérsia religiosa para incitar rebeliões e outras formas de ação política. Assim, em 11 de novembro de 1617, Maurício de Nassau decidiu que um sínodo nacional deveria ser convocado em 1 de novembro de 1618. Estava criado o quadro para o surgimento do famoso Sínodo de Dort.

Encorajado pelo Rei Tiago I da Inglaterra, o governo central holandês enviou convites a diversos representantes de países reformados para que enviassem delegados para participarem do sínodo. O governo holandês requisitava a cada país que fossem enviados alguns de seus teólogos mais renomados, de proeminente erudição, santidade e sabedoria, que com seu conselho e juízo pudessem trabalhar diligentemente para apaziguar as diferenças que tinham surgido nas igrejas da Holanda, trazendo paz àquelas igrejas.

Outro motivo para convidar os teólogos estrangeiros, foi a tentativa de garantir a isenção que os remonstrantes alegavam que a igreja da Holanda não possuía. Uma terceira razão estava ligada ao fato dos remonstrantes alegarem continuamento ao povo que as demais igrejas protestantes compartilhavam da mesma visão que eles. A presença dos delegados estrangeiros poderia dirimir esta e outras dúvidas.

O Sínodo de Dort

Em 13 de novembro de 1618 o Sínodo Nacional de Dort foi estabelecido. Todas as despesas seriam pagas pelo governo holandês. O sínodo era composto de 84 membros e 18 comissários seculares. Dos 84 membros, 58 eram holandeses, oriundos dos sínodos das províncias, e os demais (26) eram estrangeiros. Todos tinham direito a voto.

Após um culto de oração todos foram para o local das reuniões. O moderador era Johannes Bogerman. A primeira atividade foi o pronunciamento do juramento:

"Prometo, diante de Deus em quem creio e a quem adoro, que está presente neste lugar, e que é o Perscrutador de nossos corações, que durante o curso dos trabalhos deste Sínodo, que examinará não só os cinco pontos e as diferenças resultantes deles mas também qualquer outra doutrina, não utilizarei nenhum escrito humano, mas apenas e tão somente a Palavra de Deus, que é a infalível regra de fé. E durante todas estas discussões, buscarei apenas a glória de Deus, a paz da Igreja, e especialmente a preservação da pureza da doutrina. Assim, que me ajude Jesus Cristo, meu Salvador! Rogo para que ele me assista por meio do seu Espírito Santo!"

Os membros foram divididos em 18 comitês. A cada questão proposta ao sínodo, cada um dos comitês formulava sua própria resposta que era depois apresentada ao Sínodo como um todo. O material escrito era entregue aos moderadores que compilavam um texto único. Esse texto era aprovado pelos próprios moderadores ou ia a voto.

O tema principal do Sínodo era o arminianismo. Foram convocados para comparecer diversos teólogos arminianos. Estes se reuniram antes em Rotterdam e nomearam oficiais para representá-los. A estratégia deles era atacar os contra-remonstrantes como sendo fanáticos religiosos. A idéia era centrar forças contra o supralapsarianismo de Gomarus.

Simon Episcopius foi escolhido para ser o orador dos remonstrantes. Logo na segunda reunião, ele já se indispôs com todos e usou de uma artimanha típica dos arminianos. Fez críticas ao Sínodo, ao governo e ao príncipe Maurício. Quando instado a fornecer uma cópia do discurso, alegou que esta estava ilegível. Mais tarde concordou em fornecer uma cópia, mas esta não continha as críticas aos governantes.

A batalha era severa. Os remonstrantes alegavam que o sínodo não tinha competência para julgá-los. Bogerman, o moderador, retrucava dizendo que o sínodo havia sido legalmente constituído pelo poder público. Os remonstrantes deveriam ter aceitado esse argumento, já que sempre defenderam que o estado é a autoridade máxima nas questões religiosas e eclesiásticas. Ao serem convidados a colocar no papel suas divergências em relação à Confissão Belga, os remonstrantes negaram-se a obedecer. Quando Bogerman perguntou se eles reconheciam os artigos da representação de 1610, permaneceram calados.

Como os remonstrantes dificultavam demais os trabalhos, em 14 de janeiro de 1619 Bogerman perguntou a eles definitivamente se eles iriam comportar-se e submeter-se ao Sínodo. Eles responderam que não se submeteriam ao Sínodo. Irritado, Bogerman precipitou-se e mandou-os embora sem consultar os demais membros. As mesas e cadeiras dos arminianos foram retiradas e passou-se a analisar suas opiniões através de seus escritos. O principal documento analisado foi a representação de 1610 com seus 5 artigos.

Os Cânones de Dort

O documento final, os Cânones de Dort, foi formulado em 93 artigos, separados em 5 pontos de doutrina. O documento foi assinado por todos os delegados em 23 de Abril de 1619. Foram ao todo 154 reuniões ao longo de sete meses. Prevaleceu a interpretação ortodoxa.

Muitos consideram injustas as medidas tomadas após o sínodo. Afinal, mais de 200 ministros remonstrantes foram depostos de seus cargos. Alguns se retrataram e retornaram às suas funções, mas boa parte foi definitivamente banida. Mas é bom lembrar que o que hoje seria considerado, talvez, indevida perseguição religiosa, era uma prática absolutamente comum a todas as religiões e países da época.

É importante entender também que os ministros remonstrantes eram muitas vezes mantidos em seus cargos apesar de estarem violando o juramento que fizeram de manterem-se fiéis à confissão belga e ao catecismo de Heidelberg. Isso era conseguido por meio do apoio de políticos poderosos. Enquanto isso, os mesmos políticos perseguiam os contra-remonstrantes chegando ao ponto, em algumas situações, de impedir-lhes o acesso ao local de culto. A religião e a controvérsia eram freqüentemente usadas para fins políticos.

Pode-se dizer que ocorreu com os arminianos o que já aconteceu centenas de vezes na história da igreja. Nas palavras de Johns R. de Witt:

"um homem raramente é honesto o suficiente para sair de sua igreja, se suas convicções são incompatíveis com as daquela igreja. Normalmente ele tenta, por meio de uma estranha linha de argumentação casuística, converter a igreja ao seu próprio entendimento da verdade".

Os arminianos, ao romperem suas promessas e no entanto permanecerem atuando na igreja, encaixaram-se perfeitamente nessa descrição.

É bom lembrar que outras religiões eram toleradas na Holanda naquele período, apesar de não poderem construir templos próprios. Entre estes haviam peregrinos, luteranos, anabatistas e até mesmo católicos romanos. Mas nenhum deles ameaçava a igreja "de dentro" como faziam os arminianos.

Conclusão

O Sínodo de Dort foi importante por ter mostrado a tentativa dos arminianos de diminuírem a soberania de Deus na salvação, engrandecendo o papel do homem na sua própria salvação.

Mais tarde, os cinco pontos de divergência em relação aos artigos arminianos passaram a ser conhecidos como os "cinco pontos do calvinismo" e um acróstico foi criado para facilitar a lembrança de cada ponto. A esse acróstico deu-se o nome de TULIP:

Total depravação
Uma eleição incondicional
Limitada expiação
Irresistível graça
Perseverança dos santos

É importante frisar que os cinco pontos e os cânones de Dort não são uma exposição da doutrina reformada. Esta é muito mais abrangente. Longe de serem uma exposição do calvinismo, os cinco pontos servem muito mais para enfatizar diferenças entre o calvinismo e o arminianismo, principalmente na relação da soberania de Deus com a salvação. O ensino de Calvino é muito mais amplo e abrangente e, no que se refere aos cinco pontos, alguns deles ele nem sequer tratou em profundidade, como é o caso, por exemplo, da expiação limitada.

Acreditamos firmemente que é importante conhecer as origens daquilo em que cremos e perceber que, tal qual ocorreu com outras doutrinas como a Trindade e a dupla natureza de Cristo, a verdade de Deus esteve sempre sob ataque e homens corajosos sempre se levantaram para batalhar"diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3). Graças a Deus.

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Bibliografia
- Seaton, W. J., Os Cinco Pontos do Calvinismo (São Paulo - Editora PES)
- Wikipedia, Synod of Dort, http://en.wikipedia.org/wiki/Synod_of_Dort
Vandergugten, S., The Arminian Controversy and the Synod of Dort, 
Wikipedia, Five Points of Calvinism, http://en.wikipedia.org/wiki/Five_points_of_Calvinism

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Fonte: Bom Caminho
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Para ler os Cânones de Dort, na íntegra, clique aqui!
Sobre o acróstico TULIP, clique aqui!
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Por Thiago Oliveira


O crescimento do movimento neopentecostal, principalmente sob o formato G 12 (crescer, multiplicar, ganhar e consolidar) fez surgir uma série de novas congregações e, com isso, muitos galpões e imóveis que antes serviam como estabelecimento comercial acabaram ganhando cadeiras, um púlpito, uma placa e voilà: Nasce uma igreja. Não é raro vermos pessoas tecendo certos tipos de comentário: “melhor que seja uma igreja do que um bar ou um bordel.” Esse tipo de argumento faz sentido, sociologicamente falando. Pois os congregados à religião serão melhores cidadãos, moralmente falando. Ao menos é isso que se espera de um religioso. Assim, sendo, ter uma igreja ao invés de um bar ou uma boate gera menos sequelas sociais. Pois lá não haverá agressão física, palavras de baixo calão, prostituição, tiroteios, drogadição e uma série de mazelas sociais que um ambiente desses é capaz de gerar.

No entanto, quando saímos da esfera humana, fazendo uma reflexão sobre o pensamento Divino, podemos afirmar que entre uma igreja herética e/ou hipócrita e um prostíbulo não existe nenhuma diferença. Ambos maculam a Santidade do Senhor causando-lhe o aborrecimento. Trabalhando apenas a perspectiva de Deus, podemos concluir que melhor seria que tais igrejas fechassem suas portas de uma vez por todas. Recordo-me exatamente das palavras de Malaquias 1: 10: 

Quem há também entre vós que feche as portas por nada, e não acenda debalde o fogo do meu altar? Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão”.

Dura é esta palavra, mas precisa ser lembrada. Deus já estava totalmente aborrecido com o povo de Judá e usou Malaquias (nome sugestivo para um profeta, pois quer dizer: “meu mensageiro”) para profetizar contra a religiosidade torpe daquele povo. A agenda religiosa em Jerusalém seguia sua rotina. O Templo fora restaurado após a volta do exílio babilônico, os sacerdotes e levitas cumpriam o seu ofício e os sacrifícios eram oferecidos. Todavia, era uma religião desprovida da legítima adoração. Fazia-se as mesmas coisas apenas pelo peso da tradição. Não cultuavam com fervor. Não amavam ao Deus de Israel e nem eram gratos a Ele por Seus grandes feitos, ao contrário questionavam o amor divino (Ml 1:2). E a origem de toda deturpação do culto teve origem nos sacerdotes:

Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do SENHOR dos Exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos”. (Malaquias 2: 7 e 8.)

Todo o desvio acontece quando a Lei é deixada de lado. Quando aqueles que deveriam pastorear o povo e alimentá-los com a Palavra do SENHOR dos Exércitos estão corrompidos, inevitavelmente o povo irá tropeçar por ignorância. O apóstolo Tiago já nos alertava que os mestres receberão mais duro juízo devido a sua imensa responsabilidade de conduzir a Igreja de Deus (Tg 1:3). Atualmente vemos todo tipo de excesso e heresia no segmento evangélico e toda a culpa é dos pastores que abandonaram a Sã Doutrina e começaram a pregar crendices, sandices e cretinices por torpe ganância. Sempre quando acontecem cultos “tremendos”, “abençoados” e “poderosos” segundo os seus frequentadores, Deus em Seu trono continua a perguntar: “Se eu sou senhor, onde está o meu temor? (Ml 1:6). Mas nós não queremos ouvir repreensão. Nada de palavras duras. Queremos bênçãos. Queremos tomar posse da vitória, e quando o SENHOR nos exorta falamos que isso é canseira (Ml 1:13).

Agora também tem o outro lado da moeda. Esse meu texto não só acusará os neopentecostais. Não mesmo. Há nas igrejas históricas muita semelhança no descaso com a adoração. Muitas vezes não estamos oferecendo o nosso louvor com a reverencia e o temor que o Onipotente deve receber. O livro de Malaquias fala também da forma como ofertamos, o resto, o que não tem valor, o que não faz falta. No contexto do profeta eram os animais coxos e maculados. No nosso o que seria? Acho que cada indivíduo tem a resposta para essa pergunta. No capítulo 2, versículos 9 e 10, Malaquias fala sobre a acepção de pessoas na Lei e a forma aleivosa com que tratamos nossos irmãos. Isso muito se assemelha ao nosso contexto, onde as disciplinas são aplicáveis apenas para os “pequenos” das congregações. Somos desleais, fraudulentos quando disciplinamos um jovem casal que fornicou, todavia, deixamos o empresário sonegador imune, afinal, o seu dízimo é enorme e ele sempre patrocina os eventos da congregação.

Desde que li Malaquias 1:10 que fiquei com essa ideia na cabeça: Certas igrejas fechadas não aborrecem a Deus. Logo pensei nas seitas heréticas, mas depois fiz uma autorreflexão. Comecei a pensar nas igrejas de teologia reformada, que muitas vezes se envaidecem por ter uma doutrina equilibrada. Será que também para essas Deus não estaria bradando: “Fechem suas igrejas”! Será que não temos cansado o SENHOR com nossas palavras (Ml 2:17)? Precisamos refletir sobre a nossa adoração e pedir perdão por todas as vezes em que o nosso ego foi confortado em detrimento de Deus não ter sido glorificado. Apiedai-vos de nós SENHOR dos Exércitos. Graças a divina fidelidade é que não fomos destruídos.

Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos”. (Malaquias 3:6.)

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Sobre o autor: Thiago S. Oliveira, Recifense, Noivo, Cristão Reformado... um notório pecador remido pela Graça!
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Por Loraine Boettner

Uma pesquisa sobre a queda e os seus desdobramentos é um trabalho humilhante. Prova ao homem que todas as suas alegações de bondade são infundadas, e mostra-lhe que sua única esperança está na soberana graça de Deus Todo-Poderoso. A "graciosamente restaurada habilidade" de que os Arminianos falam não é consistente com os fatos. As Sagradas Escrituras, a história e a experiência Cristã se nenhuma forma avalizam tal como sendo uma visão favorável da condição moral do homem como o sistema Arminiano ensina. Ao contrário, cada um deles nos proporciona um quadro pessimista de uma corrupção horrível e de uma inclinação universal para o mal, a qual somente pode ser ultrapassada pela intervenção da divina graça. O sistema Calvinista ensina uma queda muito mais profunda no pecado e uma muito mais gloriosa manifestação da graça redentora. Dessas profundezas o Cristão é levado a desprezar-se a si mesmo, largando-se incondicionalmente nos braços de Deus, e permanecer na graça imerecida, somente a qual pode salva-lo.

Nós deveríamos ver a piedade de Deus e também a Sua severidade nas esferas espiritual e física. Em toda a Bíblia, e especialmente nas palavras do próprio Cristo, os tormentos finais dos maus são descritos de tal maneira a mostrar-nos que são indescritivelmente horríveis. No Evangelho de Mateus somente, vemos nas passagens 5:29,30; 7:19; 10:28; 11:21-24; 13:30,41,42,49,50; 18:8,9,34; 21:41; 24:51; 25:12,30,41; e 26:24. Certamente uma doutrina que recebeu tal ênfase dos lábios de Cristo, Ele mesmo, não pode passar em silêncio, embora tão desagradável que possa ser. No próximo mundo os perversos, com todas as barreiras removidas, mergulharão de cabeça no pecado, na blasfêmia e nas ofensas a Deus, piorando e piorando enquanto afundam cada vez mais no buraco. Castigo sem fim é a recompensa de pecado sem fim. Mais ainda, a glória de Deus é tanta enquanto Ele castiga o perverso, como é quando Ele recompensa o justo. Muito da negligente indiferença para com o Cristianismo nos nossos dias é devida à falha dos ministros Cristãos em enfatizar estas doutrinas que Cristo ensinou tão repetidamente.

No âmbito físico nós vemos a severidade de Deus em guerras, fome, enchentes, desastres, doenças, sofrimentos, mortes, e crimes de toda espécie que avassalam tanto justos como injustos da mesma forma. Tudo isso existe num mundo que está sob o completo controle de Deus, que é infinito nas Suas perfeições.

"Considera pois a bondade e a severidade de Deus..." [Romanos 11:22]. O Naturalismo não faz justiça a nenhum desses. O Arminianismo magnifica o primeiro, mas nega o segundo. O Calvinismo é o único sistema que faz justiça a ambos. Somente este sistema adequadamente estabelece os fatos com relação ao eterno e infinito amor de Deus, que O levou a propiciar redenção para o Seu povo, mesmo com o grande custo de mandar o Seu Filho unigênito para morrer numa cruz; e também com relação ao terrível abismo que existe entre o homem pecador e o Deus santo. É verdade que "Deus é Amor", mas juntamente com esta verdade também há que ser colocada outra, que "...o nosso Deus é um fogo consumidor" [Hebreus 12:29]. Qualquer sistema teológico que omita ou que não enfatize alguma dessas verdades será um sistema mutilado, não importa o quão plausível ele possa soar aos homens.

Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) do homem é terrivelmente pesada, severa, proibitiva. Mas deve ser lembrado que nós não temos a liberdade para desenvolver um sistema teológico que satisfaça a nossa vontade. Devemos considerar os fatos como os encontramos. Tais exibições do verdadeiro estado da raça humana são, é claro, geralmente ofensivas ao homem não regenerado, e muitos têm tentado encontrar um sistema de doutrinas que seja mais agradável á mente popular. O estado do homem caído é tal que ele prontamente dá ouvidos a qualquer teoria que faça-o mesmo que parcialmente independente de Deus; ele deseja ser o mestre do seu destino e o capitão da sua alma. O estado de perdição e de ruína do pecador precisa ser constantemente mostrado a ele; pois até que a ele seja feito sentir tal estado, ele nunca buscará ajuda, onde somente tal ajuda pode ser encontrada. Pobre homem! Verdadeiramente carnal e com a alma sob o jugo do pecado, não somente sem nenhum poder mas também sem inclinação para mover-se na direção de Deus; e o que é ainda mais terrível, numa presunção real, blasfemosamente rival do Grande Jeová.

Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), ou do Pecado Original, foi tratada com alguma extensão, de maneira a estabelecer a base fundamental sobre a qual se encontra a doutrina da Predestinação. Este lado do quadro é negro, na realidade muito negra; mas o suplemento é a glória de Deus na redenção. Cada uma dessas verdades deve ser vista na sua verdadeira luz, antes que a outra possa ser verdadeira e adequadamente apreciada.

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Fonte: A doutrina reformada da predestinação, Loraine Boettner. p. 55-57.
 

Por Leonardo Dâmaso

Ao contrário do que muitos cristãos imaginam – a nossa batalha contra satanás e os demônios não é somente de cunho espiritual, como se a missão deles consistisse em apenas tentar os cristãos a pecar contra Deus, oprimir as pessoas, frustrar os seus planos, causar acidentes, brigas, confusões, destruição de casamentos dentre outras coisas. Satanás e os seus demônios só podem agir no mundo [ainda que influenciando as pessoas, apenas, uma vez que certa parte do mal que sobrevém em nossa vida seja como resultado dos nossos próprios pecados e escolhas erradas que fizemos] se Deus, assim, “permitir” [ou tiver determinado]. O caso de Jó é um exemplo clássico de que Satanás só tocou em sua vida porque Deus permitiu que ele o fizesse (Jó 1.6-12; 2.1-6).

Não obstante, a outra faceta desta batalha espiritual entre Satanás e seus demônios contra os cristãos é de cunho intelectual. A batalha espiritual não reside apenas em oposições físicas causadas pelo exército demoníaco que descrevi anteriormente, mas, também, em oposição “intelectual”. Satanás se opõe veemente contra a Palavra de Deus; contra o Evangelho. A sua oposição consiste especificamente na deturpação da verdade. Desse modo, quando os preceitos de Deus estabelecidos nas Escrituras são distorcidos por teólogos, pastores e pregadores equivocados pouco ou quase nada instruídos teologicamente, que são os instrumentos de Satanás incumbidos para esta tarefa [ainda que muitos destes o façam por completa ignorância e inconscientes do erro], a verdade, a Palavra de Deus ou o Evangelho são transmitidos e ensinados às pessoas na igreja, no rádio, na TV e na internet diametralmente de forma equivocada. Esta deturpação da verdade, portanto, é chamada de heresia. 
  
Partindo deste pressuposto, está completamente fora dos padrões que as Escrituras determinam fazer uma separação obtusa de “pessoas”, “crenças hereges” e “ações” das mesmas. É comumente enfatizado no meio evangélico a ideia de que a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas, sim, contra Satanás e os demônios” (Ef 6.12). De fato, é verdade o que Paulo declarou. Entretanto, precisamos entender o que o apóstolo quis dizer com esta expressão para não incorrermos em equívocos de interpretação desnecessários que poderiam ser facilmente evitados se analisássemos com atenção o texto em voga.  Deixe-me ilustrar tal pensamento:

Muitos evangélicos afirmam categoricamente que não devemos ser “contra”, no sentido de “odiar” ou “lutar” com pessoas; antes, devemos nos opor contra suas crenças hereges e ações pecaminosas de acordo com as demandas das Escrituras. Contudo, “heresias” e “pecados” simplesmente não invadem a mente e a vida das pessoas, mas são as pessoas que abraçam as heresias disseminadas através de pregações e ensinamentos orais na igreja, no rádio, na TV, na internet e através de literatura. E também são as pessoas que decidem adotar a prática de pecados; ou seja, as pessoas que decidem se prostituir, adulterar, estuprar, roubar, matar dentre outros pecados.  

Portanto, não podemos separar o pecado do pecador, como fazem muitos evangélicos, dizendo que “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”. O homem só se torna pecador se cometer aquilo que foi determinado por Deus nos seus mandamentos como pecado. Assim, o pecado só existe e é considerado pecado se alguém o tiver cometido. Logo, Deus odeia tanto o pecado bem como odeia e ama ao mesmo tempo o pecador [especificamente aqueles que estão para serem redimidos ou regenerados] (Sl 5.5-6; 11.5-6; 34.16; Pv 3.32a; Rm 8.7-8; Tg 3.4; 1Jo 2.15 etc.). Como Deus pode amar o pecador e somente odiar o pecado se ambos estão completamente relacionados? Se fosse assim, Deus não condenaria o ímpio à punição eterna no lago de fogo, mas apenas o pecado, e o homem, portanto, seria livre da condenação. Porém, sabemos pelas Escrituras que não é assim. O homem [ímpio] é condenado pelo pecado de Adão, o representante federal da humanidade caída e pelas suas obras más que são o resultado desta ligação com ele (Rm 5.12; Jo 3.17-19; Ap 20.11-13).

Da mesma forma que não podemos separar o pecado do pecador, também não podemos separar heresias do herege. A heresia não existiria senão existisse alguém que, em virtude de uma interpretação equivocada das Escrituras a propagasse. Ambos – heresia e herege estão entrelaçados! Assim, os inimigos de Deus ou as pessoas com as quais ele se aborrece não são simplesmente o “pecado” e as “heresias”, mas, sobretudo, “pessoas” que, mesmo enganadas por elas, ainda que temporariamente abracem, apoiem e ajudem no progresso das heresias pelas diversas seitas e do falso evangelho anunciado pelas seitas neopentecostais – quer seja contribuindo financeiramente ou fazendo parte do rol de membros das mesmas.  

Via de regra a batalha espiritual na esfera intelectual é teológica! Os cristãos lutam pela verdade! Estamos em guerra contra a mentira caracterizada pelas heresias que compõe o falso evangelho pregado a plenos pulmões hoje, o qual é reputado como a verdade e a verdade definida como mentira! Podemos observar que, sempre no contexto do assunto sobre batalha espiritual, Paulo emprega características militares como ilustração para que possamos entender que estamos numa guerra constante enquanto vivermos neste mundo caído que se opõe contra os valores de Deus e contra os seus filhos, os cristãos. O apóstolo utiliza a metáfora militar de guerra no contexto de Efésios 6.10-17; em 2 Coríntios 10.3-5; em 1 Timóteo 6.12 e em 2 Timóteo 2.3-4 para destacar que a nossa batalha é tanto espiritual contra os poderes malignos quanto intelectual pelo verdadeiro evangelho contra o falso evangelho híbrido e sincrético.

Esta guerra não é somente contra os sofismas religiosos, mas também contra os seus expositores. Jesus quando esteve neste mundo na sua primeira vinda foi um opositor ferrenho tanto dos fariseus quanto de sua religião herege e legalista (veja os detalhes dos confrontos de Jesus com os fariseus em Mt 5.20; 6.2-17; Mc 7.1-15; Mt 16.5-12; Mt 23; Jo 8.37, 47 etc.). Esta é a verdade subjacente em Gênesis 3.15. Deus disse que haveria um conflito [enquanto a terra não for restaurada] entre os descendentes de Cristo Jesus não somente com Satanás, mas também com os seus descendentes de Satanás caracterizados pelos homens ímpios que, de acordo com o assunto a lume, muitos destes são falsos teólogos, falsos pastores e falsos pregadores e, portanto, devem ser refutados e repreendidos. O cristão não deve ser um omisso da verdade, mas, sim, um expoente crível e implacável a semelhança do Senhor Jesus quando esteve nesta terra na sua primeira vinda! 

Portanto, quando Paulo disse que "a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra satanás e os demônios", ele estava acentuando que a guerra que estamos engajados por sermos cristãos não é física, de modo que não fazemos uso de estratégias e armas físicas como revólveres, pistolas, escopetas, bombas e, tampouco, iremos infligir os nossos opositores da mesma forma. Visto que a batalha é espiritual e intelectual, nossas armas e estratégias são espirituais. Empregamos a oração, a pregação do evangelho puro e simples, que é a espada do Espírito (Ef 6.17) e a apologética através de argumentos que defendem a fé evangélica. Como vemos nas Escrituras que a nossa luta é também contra pessoassob a influência e domínio de satanás e contra os demônios, e não somente contra as “heresias” propriamente ditas, este conflito não é vencido por violência física e verbal, mas pelo poder do Espírito Santo e da exposição fiel das Escrituras para que pessoas possam ser libertas da mentira da religiosidade morta, superficial e do falso evangelho. Paulo escreveu:

2 Coríntios 10.3-5 – Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torna-lo obediente a Cristo. (NVI)

As fortalezas que o apóstolo enfatiza aqui não são fortalezas demoníacas conforme entendem os adeptos do movimento de batalha espiritual místico e herético difundido por Peter Wagner. Antes, "Paulo se refere à resistência que os incrédulos oferecem à verdade do Evangelho, por meio de sofismas e de outros raciocínios falazes, que procedem da soberba e da incredulidade do coração deles" (Augustus Nicodemus Lopes. O que você precisa saber sobre Batalha Espiritual, pág 71 - cultura cristã). Finalmente, o apóstolo ensina que a vitória sobre os argumentos falaciosos dos incrédulos consiste na pregação sincera do evangelho de Jesus Cristo, o que é a única maneira de tais pessoas serem libertas do engano demoníaco.  Jesus disse em João 8.32 - "... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (ARA)     

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Fonte: Bereianos