Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

domingo, 31 de maio de 2015




Por Thiago Oliveira


Antes de mais nada, precisamos definir “Apologética”. Pois bem, esta palavra significa “defesa verbal”. Quando falamos em Apologética, quase sempre nos referimos a defesa do Evangelho, pois foi no Cristianismo que ela foi desenvolvida. Os apologistas foram aqueles que de maneira sistemática, explanaram e demonstraram o Evangelho como sendo uma fé digna de credibilidade, autenticidade e superioridade com relação as demais religiões. Atualmente, as redes sociais disseminaram as práticas apologéticas, sobretudo, em páginas e blogs de confissão reformada, todavia, existe algo preocupante no tipo de apologética que encontramos na websfera.

Defender a fé é uma recomendação bíblica. Mas, gostaria muito que nós pudéssemos meditar nas seguintes palavras do apóstolo Pedro:

Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” (1 Pedro 3.15)

A primeira coisa a que chamo a atenção é o fato de que antes de defendermos o Evangelho, Cristo precisa ser santificado (i.é. separado) como o Senhor do nosso coração, local de onde procedem as fontes da vida (Pv 4.23). Cristo deve ter o domínio daquilo que pensamos e também deve dominar sobre a nossa conduta. Então, sendo Ele o Senhor, toda a honraria deve ser dada somente para Ele. Lembremos do louvor paulino (Rm11.36): “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém”.

Tendo Cristo o domínio de nosso ser e da nossa prática, estaremos prontos para responder a qualquer um que nos indagar acerca de nossa esperança. O termo “qualquer”, usado por Pedro, é inclusivo e nos remete a todo tipo de circunstância. Desde a defesa perante um tribunal, num contexto de perseguição ao Evangelho, ou até mesmo uma resposta para um detrator da Palavra ou para alguém que verdadeiramente anseie escutar sobre as boas-novas, ou melhor, escutar sobre a esperança que temos em nosso Salvador, no qual cremos piamente que estamos nEle guardados e salvos da ira vindoura que recairá sobre os pecadores no dia do Juízo.

Todavia, a nossa resposta deve ser dada com mansidão. Aqui temos que novamente nos reportar para a santificação de Cristo em nossos corações. Pois, se Ele foi manso (Mt 11.29), porque então nós haveríamos de ser diferentes? Estaria o servo acima de seu Senhor? Absolutamente, não! No entanto esta mansidão tem faltado entre aqueles que dizem ter zelo pela sã doutrina. Diversos fóruns em blogs e redes sociais mostram a cólera com que irmãos tratam irmãos. Não falo nem da relação do cristão com um não-cristão. Basta ser de uma denominação ou corrente teológica diferente para vermos um verdadeiro “bang-bang”. Homens que querem vencer seu oponente em argumentos, muitas vezes, para satisfazer seu ego e não para glorificar a Deus.

Alguns destes irascíveis costumam citar Paulo como se a atitude do apóstolo coadunasse com o descabido furor que exalam pelos quatro cantos. Mas, seria mesmo Paulo alguém que defendia o Evangelho com agressividade? Vejamos o que ele ensina:

Em Colossenses 4.6 ele afirma que “a vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Aqui o apóstolo alerta que o modo de se falar é tão importante quanto o conteúdo. A figura de linguagem utilizada, temperar com sal, remete a uma tradução rabínica de tratar a Torá como o sal, conservante da pureza, que torna o alimento agradável ao paladar. Precisamos evitar os extremos. Uma comida insossa é ruim, tal como uma comida muito salgada. É preciso então equilibrar a balança, saber quando e como devemos falar do Evangelho, não para ganhar uma discussão, este nunca foi o objetivo paulino, mas sim para ganharmos as pessoas para a Verdade. Para que tenhamos êxito na nossa apologética, é extremamente necessário termos respeito e amabilidade para com o nosso próximo, por mais equivocado que ele esteja. Não quer dizer que devemos aceitar seu erro e sermos indulgentes. Digo apenas que devemos instruir com amabilidade e (porque não?) gentileza.

Os dois primeiros versículos de Romanos 15 nos dizem que os fortes devem suportar a fraqueza dos fracos. Força e fraqueza nesse contexto tem a ver com o conhecimento que adquirimos sobre Deus no decorrer da caminhada com o Senhor. Sabemos que este conhecimento não é meramente intelectual, pois existe aqui o conceito revelacional. Deus se revela a quem Ele bem quer e a uns Ele concede mais compreensão do que a outros. Cabe aqueles a quem muito foi dado, não se utilizarem dessa dádiva para se vangloriar ou agradar a si mesmos. Aos mais dotados de percepção das doutrinas bíblicas, que cumpram o trabalho de edificar os mais fracos nas questões da fé. Aqui a fraqueza envolve intelectualidade e, também, moralidade. Todavia, Paulo não nos instrui a tolerar os erros dos que denomina fracos. Ele lança a ideia de suportar, ou seja, conduzir em amor, estes irmãos, mesmo em suas fraquezas, para que eles sejam posterior e sistematicamente edificados no Corpo de Cristo.

É justamente neste ponto que vejo o quão distante estamos da recomendação apostólica de suportarmos uns aos outros em amor (Ef 4.2). Será mesmo que uma postagem de Facebook é um local ideal para a correção? Ali onde as palavras não tem feição e portanto aparentam ser mais frias do que deveriam ser, tentamos convencer irmãos, travestidos de oponentes, a pensarem de maneira coerentemente bíblica. Acontece que, quando somos impiedosos, desproporcionalmente debochados e intelectualmente vaidosos, não podemos cobrar coerência de ninguém. Façamos uma auto-análise.

Ainda usando um texto de Paulo, este quando escreve para Timóteo, dá a seguinte recomendação:

E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos.” (2 Timóteo 2.23-26)

Esta passagem é fantástica. Paulo diz ao seu discípulo e filho na fé, que ele deve ser manso e não andar contendendo sobre coisas supérfluas. Vejo irmãos se engalfinhando por questões tais como: supra ou infralapsarianismo, batismo por imersão ou aspersão e etc. Não existe aqui uma regra para que não se debata sobre estes determinados assuntos. O que existe é uma recomendação para que estes não venham a ser encarados como coisas estritamente necessárias a comunhão, e que não causem divisões entre os membros do corpo de Cristo. Timóteo, mesmo diante dos sectários e hereges, tinha que “instruir com mansidão”. Atentemos ao fato que a mansidão é para os que persistem no erro (v.25). Na disciplina pode haver brandura. Ela deve estar atrelada a paciência e ao desejo de ver o arrependimento brotar do coração daquele que estava obstinado a permanecer no erro para que tornem a despertar, libertando-se dos laços diabólicos no qual estão presos.

Outra bela passagem bíblica que nos encoraja a sermos mais piedosos em nossa apologética se encontra em Judas 22 e 23: “E apiedai-vos de alguns, usando de discernimento; E salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne.

Judas escreve aos seus leitores que eles devem ajudar aos crentes que não tem muito discernimento da Palavra, e que por isso chegam a duvidar dela. Qualquer um de nós conhece esse tipo de crente vacilante, que quando se depara com um questionamento cético fica com a sua crença abalada. Portanto, segundo nos diz o apóstolo, é necessário conduzir estes duvidosos para que estes voltem a crer. Uma outra categoria de pessoas a que Judas se refere, são os pecadores que estão perecendo. Ele utiliza a figura do fogo consumindo os pecadores e diz que nós deveríamos prontamente salvá-los das chamas. Mas não é Deus quem salva o pecador? Logicamente, a ideia aqui não é colocar a salvação em nossas mãos como sendo autores delas, todavia, somos ministros, por Deus comissionados a anunciar a Palavra da Salvação, como bem frisou Calvino. O termo final “odiando até a túnica manchada da carne” é uma admoestação para não nos contaminarmos com o pecado, comparado aqui com roupas sujas de excremento. Do pecado precisamos tomar distância, no entanto, devemos nos aproximar dos pecadores. Foi exatamente isto que Jesus fez durante todo o seu ministério.

Depois de analisarmos estas passagens bíblicas, não nos resta dúvida de que devemos abandonar a síndrome de “Dr. Jekyll”, um clássico personagem da literatura (O Médico e o Monstro) que ao tomar uma poção criada em laboratório se transformava num ser monstruosamente descontrolado. As queixas são muitas. Estou cansado de ver pessoas que foram destratadas em blogs e páginas que se dizem apologéticas. Há um desserviço a causa do evangelho toda vez que, por exemplo, um calvinista ofende um arminiano e vice-versa. Precisamos parar de proceder como loucos e aprender de Cristo, que foi manso e suave.

A Verdade deve sempre ser dita e continuemos a combater os falsos ensinamentos que vem sendo propagados, agora em velocidade recorde devido ao avanço dos meios de comunicação. Todavia, esse combate não pode ser feito de maneira irresponsável ao ponto de andarmos na contramão do que as Escrituras estabelecem com relação a apologética. Vamos acabar de vez com esse “bang-bang” e promover o Reino com amor e humildade. Nada é nosso, tudo é dEle.

Soli Deo Gloria.

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Fonte: Electus

quinta-feira, 28 de maio de 2015



Por Josemar Bessa


Muitas pessoas, num mundo que prega abertamente o individualismo,  e cada homem como medida do que é bom e correto para si mesmo, tentam encontrar desculpas que racionalizem o problema nascido no Éden, o homem sendo “deus” de si mesmo.

Uma das desculpas é sempre tirar a responsabilidade pessoal pelo meu fracasso e colocá-lo em grupos maiores que não tem uma cara específica. Gostamos e abraçamos como desculpa os pecados institucionais, tão condenados diariamente, e pouco falamos dos pecados pessoais, que em última análise, são o nosso verdadeiro problema.

Muitos falam da imperfeição da igreja apenas como uma desculpa para sua vida vivida em torno de si mesmo.

Por exemplo, a unidade da igreja – A unidade da igreja ( olhe para a igreja local) não significa a ausência de conflitos. Quando Cristo orou pela unidade, ele também orou pela santificação de sua igreja ( João 17.17). A necessidade de santificação pressupõe a presença do pecado, e presença do pecado resulta muitas vezes, como não podia deixar de ser, em desunião.

Cristo sabia disso, ele não ora de forma ingênua, ele orou por igrejas verdadeiras num mundo real e caído, orou por igrejas imaturas, por igrejas perseguidas que lutariam com o medo..., igrejas que teriam problema com o orgulho, igrejas com membros pecadores... Ou seja, igrejas como as que o apóstolo Paulo fundou e dirigiu, e Pedro, e João... e tiveram que escrever cartas, admoestar, repreender... Igrejas como as que Jesus repreende através de João em Apocalipse 1-3. Mas a oração de Jesus ainda é que esses pecadores justificados, regenerados... estejam juntos, se mantenham juntos... Por quê? O plano de muitos hoje seria cada um ficar em sua casa até que todos fossem perfeitos para se juntarem. Mas Jesus os quer juntos e ora para que sejam santificados pela Palavra... pecadores que muitas vezes tem conflitos juntos? Por que? Porque Jesus uso os pecados irritantes dos outros para expor nossos próprios pecados, criando oportunidades de tolerar, desenvolver a paciência, orar por transformação, aprender a perdoar... cumprindo assim uma instrução fundamental: “amar uns aos outros” ( Jo 13.34-35). Como Ele nos amou, como Ele amou os discípulos... se havia algo longe de qualquer perfeição era o grupo de discípulos que andou com Jesus naqueles três anos: Pedro, Tiago e João, Tomé... Quanto orgulho e disputa por primeiro lugar houve entre eles, quanto medo, quanta incredulidade... Tudo isso levou a desunião muitas vezes, mas a contenda que naturalmente leva a desunião traz consigo a possibilidade de refinar a igreja quando o pecado é confrontado, confessado... e o evangelho da graça é aplicado (Mt 18.21-35).

O crescimento na unidade da igreja não depende de faixa etária, música... Você cria tribos, “igrejas tribais” – Em torno da juventude, estilos musicais, vestes... Não é Cristo o ponto focal dessa união – ela é humana e carnal. Sempre é a isso que nossas estratégias levam.

A unidade da igreja depende da Palavra de Deus. Logo antes de Cristo orar pela unidade da igreja nos versos 20, 21 de João 17, ele ora para que Deus santifique o seu povo. A sua oração deixa claro que a unidade tem uma base, a santificação. E ele afirma que a santificação flui da Verdade: “Santifica-os na verdade, a tua Palavra é a verdade!

Apenas quando nos humilhamos de fato sob a Palavra, não sobre partes, mas toda a Palavra, toda a Verdade. Quando abandonamos a ideia de determinar o que é relevante ou não nela, o que sempre é forjado na arrogância de um coração que não ama a Verdade, sempre que nos reunimos em torno de sua mensagem integral, mudanças espirituais verdadeiras produzem unidade espiritual verdadeira.

Unidade construída em qualquer outra base, quer seja a personalidade do líder, o estilo, o ministério específico que se molda ao gosto natural de um grupo... está destinado ao fracasso aos olhos de Deus. Só quando a Palavra é central, os membros podem de fato ser reconciliados uns com os outros, aprender a perdoar uns aos outros, amar uns aos outros... a unidade da igreja depende do empenho de todos juntos crescerem na prática na compreensão da Palavra de Deus: “Santifica-os na Verdade!”

Muitos esperam o que nunca foi prometido por Cristo. Muitos esperam o que nunca foi experimentado por nenhuma das igrejas fundadas por Paulo, Pedro, João... A unidade da igreja não será plenamente realizada neste mundo. Portanto, muitos usam esse tema, como outros, apenas para disfarçarem sua recusa em viver o evangelho e crescer como povo e rebanho de Deus juntos. O que leva a compromisso, obediência, sujeição... e tantas outras coisas que, apesar de ser o claro ensino bíblico, a mente desta geração detesta. Nesta geração um dos deuses mais cultuados é o individualismo. E muitos usam de várias desculpas para cristianizarem esse deus em suas vidas.

Muitos esperam hoje o que não está prometido até a volta de Cristo, o que o torna a pessoa inútil agora, no único tempo que ela tem neste mundo no trabalho de Deus na edificação da Sua igreja. Como Paulo poderia se manter útil e motivado em escrever cartas para as igrejas locais, pessoalmente lutar pela verdade de Deus nelas, pelo crescimento espiritual das pessoas... se pensasse assim?

A esperança do futuro não pode distorcer a percepção do presente. Todos nós devíamos saber, pelo claro ensino bíblico e pela nossa luta pessoal, que vivemos em um momento em que o Espírito e a carne coexistem numa guerra. Que o mundo é um inimigo poderoso, que Satanás engana e trabalha também em nosso meio. Devemos então, de modo realista, como Jesus, orar pela paz e união da igreja, buscar “se possível estar em paz com todos” – ou seja, no que depender de nós. Sermos filhos de Deus, ou seja, pacificadores no meio da igreja (Mt 5.9)... mas não ficarmos surpresos quando a desunião mostrar sua feia face. Devemos em momentos assim avaliar a nossa própria contribuição tanto na quebra da união, como na responsabilidade pela paz. Este é um assunto, como muitos outros, que nós temos o já, e temos também o “ainda não”.

Devemos avaliar a nossa própria contribuição para a luta, é preciso remover o registro do nosso próprio olho, e devemos esperar de novo no evangelho de Jesus Cristo. Sua paz é já, mas ainda não!

Exercer o perdão, a paciência, a longanimidade, a benignidade, a mansidão, o amor... é estar vivendo exatamente isso. Num perfeito ambiente de paz, esses frutos não estariam sendo desenvolvidos. Um dia esse tempo chegará.

Se tua aspiração fixa agora está no que ainda vem no futuro, e com isso a tua desculpa está na imperfeição da igreja, sua motivação não pode ser a mesma dos apóstolos... nem mesmo a de igreja ao orar por sua igreja (João 17), mas não passa disso, desculpa e racionalização. No entanto, paz perfeita está prometida por um Deus soberano que não pode falhar e não falhará. Hoje já estamos em paz com Ele (Rm 5.1). Agora oramos pela união, temos nos tornado pacificadores, estamos sendo santificados pela Palavra... estamos engajados na batalha, e não procurando desculpas para fugir dela.

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Fonte: Josemar Bessa
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Por Vern Poythress


O Primeiro Livro dos Reis, capítulo 22, contém um caso impressionante. Micaías, falando como profeta do Senhor, prediz que Acabe, o rei de Israel, cairia na batalha de Ramate-Gileade (1Rs 22. 20 – 22). Acabe disfarça-se na batalha para evitar ser um alvo especial para o ataque inimigo (v. 3). Mas o plano de Deus não pode ser frustrado. A narrativa descreve o evento crucial:

Então um homem armou o arco, e atirou a esmo, e feriu o rei de Israel por entre as fivelas e as couraças; então ele [o rei] disse ao seu carreteiro: Dá volta, e tira-me do exército, porque estou gravemente ferido. (v. 34)

“Um homem armou o arco, e atirou a esmo”. Ou seja, ele não mirou em qualquer alvo em particular. Uma tradução alternativa seria que ele puxou seu arco “em sua inocência” (ESV[1], leitura à margem). Uma tradução alternativa poderia ser que um homem acertou Acabe, mas ele não sabia que havia feito (ele era “inocente” de saber que era o rei). Qualquer que seja a interpretação que tomemos deste detalhe, devemos observar que a flecha atingiu o lugar correto. Acabe estava vestido de armadura. Se a flecha tivesse atingido a couraça de Acabe, simplesmente ele poderia ter ricocheteado. Se tivesse atingido as fivelas da armadura, a flecha não o teria ferido. Mas, aconteceu haver um pequeno espaço entre as fivelas e a couraça. Talvez, por apenas um momento, Acabe virou ou dobrou de tal modo que uma fina abertura apareceu. A flecha foi certeira, exatamente no lugar certo. Ela o feriu fatalmente. Ele morreu no mesmo dia (1Rs 22.35), tal como Deus o tinha dito.

Deus mostrou naquele dia que ele estava no comando dos eventos aparentemente aleatórios. Ele controlou quando o homem tirou o seu arco. Ele controlava a direção de seu alvo. Ele controlou o momento em que a flecha foi lançada. Ele controlou o voo da flecha. Ele controlou a maneira que Acabe colocou sua armadura no início do dia e a posição que Acabe ficou quando a flecha se aproximava. Ele controlou a flecha quando ela atingiu o exato lugar e entrou fundo o suficiente para produzir dano fatal os órgãos. Ele trouxe Acabe para sua morte.

Para não se sentir muito triste por Acabe, devemos lembrar que ele era um rei perverso (1Rs 21. 25, 26). Além disso, ao ir para a batalha, ele desobedeceu diretamente o aviso que o profeta Micaías dera em nome de Deus. Deus, que é Deus de justiça, executou justo juízo sobre Acabe. A partir deste julgamento deveríamos aprender a reverenciar e honrar a Deus.

A morte de Acabe era um evento de significado especial. Ele tinha sido profetizado de antemão, e o próprio Acabe era uma pessoa especial. Ele foi rei em Israel, um líder proeminente, uma pessoa importante em conexão com a história do povo de Deus no Reino do Norte de Israel. Mas, o evento ilustra um princípio geral: Deus controla os eventos aparentemente aleatórios. Um evento excepcionalmente único, como uma flecha voar em direção a Acabe, não foi narrado como uma exceção, mas como um peso particularmente importante do princípio geral, que a Bíblia ilustra em passagens onde ensinam o controle universal de Deus.

Coincidências

Nós podemos encontrar outros eventos na Bíblia onde o resultado depende de uma aparente coincidência ou causalidade.  

Em Gênesis 24, Rebeca, que pertencia ao grupo de parentes de Abraão, aconteceu de ela sair [para buscar água] justamente depois que o servo de Abraão chegou [ao local]. O servo estava orando e esperando, procurando uma esposa para Isaque, filho de Abraão (Gn. 24.15). O fato é que Rebeca veio justamente no momento certo, era claramente a resposta de Deus à oração do servo. Rebeca, mais tarde, casou-se com Isaque e deu à luz a Jacó, um ancestral de Jesus Cristo.

Anos mais tarde, Raquel, que pertencia à mesma família, aconteceu de sair [para levar as ovelhas] exatamente depois que Jacó chegou (Gen. 29.6). Jacó a encontrou, caiu de amor por ela e casou-se com ela. Ela se tornou a mãe de José, a quem Deus mais tarde levantou para preservar a família inteira de Jacó durante os sete anos de fome (Gen. 41 – 46). Quando Deus preparou Raquel para Jacó, ele estava cumprindo sua promessa que ele cuidaria de Jacó e o traria de volta a Canaã (28.15). Além disso, ele estava cumprindo sua promessa de longo alcance que ele abençoaria os descendentes de Abraão (vv. 13, 14)

Na vida de José, depois que os seus irmãos o tinham jogado em um poço, aconteceu de passar uma caravana de Ismaelitas que estava viajando para o Egito (Gen. 37.25)

A falsa acusação da esposa de Potifar levou José a ser jogado em uma prisão (Gen. 39.20). Aconteceu de Faraó ter se irado com seu copeiro-chefe e seu padeiro-chefe, e aconteceu de eles serem lançados na prisão onde José agora tinha uma posição de responsabilidade (40.1 – 4). Enquanto eles estavam repousavando, aconteceu de o copeiro-chefe e o padeiro-chefe terem um sonho especial. A interpretação de seus sonhos por parte de José o levou, mais tarde, à oportunidade de interpretar os sonhos de Faraó (Gen 41). Esses eventos conduziram ao cumprimento o antigo sonho profético que Deus tinha dado a José em sua mocidade (37.5 – 10; 42.9)

Depois que Moisés nasceu, sua mãe o pôs em um cesto feito de junco e o colocou entre os juncos à margem do Nilo. Aconteceu da filha de Faraó descer ao rio e sucedeu de ela notar o cesto. Quando ela abriu o cesto, aconteceu do bebê chorar. A filha de Faraó teve compaixão e adotou Moisés como seu próprio filho (Êx. 2.3 – 10). Como resultado, Moisés foi protegido da sentença de morte aos filhos machos das hebreias (1.16, 22), e ele “foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios” (At. 7.22). Assim, Deus executou seu plano, de acordo com o qual Moisés seria, finalmente, o libertador dos israelitas do Egito.

Josué enviou dois espias a Jericó. Fora de todas as possibilidades, aconteceu de eles irem à casa de Raabe, a prostituta (Js. 2.1). Raabe escondeu os espias e fez um acordo com eles (vv. 4, 12 – 14). Consequentemente, ela e seus parentes foram preservados quando a cidade de Jericó foi destruída (6.17, 25). Raabe, então, tornou-se uma ancestral de Jesus (Mt. 1.5).

Aconteceu de [Rute] ir para a parte do campo que pertencia a Boaz” (Rt 2.3).[2] Boaz observou Rute, e então uma série de eventos levaram Boaz a casar-se com Rute, que se tornou uma ancestral de Jesus (Rt 4.21, 22; Mt. 1.5).

Durante a vida de Davi, lemos o seguinte registro do que aconteceu no deserto de Maon:

E Saul ia deste lado do monte, e Davi e os seus homens do outro lado do monte; e, temeroso, Davi se apressou a escapar de Saul; Saul, porém, e os seus homens cercaram a Davi e aos seus homens, para lançar mão deles. Então veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus com ímpeto entraram na terra. Por isso Saul voltou de perseguir a Davi, e foi ao encontro dos filisteus; por esta razão aquele lugar se chamou Rochedo das Divisões” (1Sm 23.26 – 28).

Davi escapou por pouco de ser morto, porque aconteceu dos filisteus conduzirem um ataque em um determinado momento, e o aconteceu de o mensageiro chegar a Saul quando ele estava pronto para atacar a Davi. Se nada tivesse acontecido para interferir na perseguição de Saul, ele poderia ter tido sucesso em matar Davi. A morte de Davi teria extirpado a linhagem de descendência que levaria a Jesus (Mt. 1.1, 6).

Quando Absalão articulou sua revolta contra o rei Davi, aconteceu de um mensageiro vir a Davi dizendo: “O coração dos homens de Israel tem seguido a Absalão” (2Sm 15.13). Davi, imediatamente fugiu de Jerusalém onde, se ficasse, teria sido morto. Durante a fuga de Davi, aconteceu de Husai, o arquita, vir encontrar com ele, “com roupa rasgada e cabeça coberta de terra” (v. 32). Davi falou a Husai para ele voltar a Jerusalém, alegando apoiar Absalão e derrotar o conselho de Aitofel (v. 34). Como resultado, Husai foi capaz de persuadir a Absalão a não seguir o conselho de Aitofel sobre a batalha, e Absalão morreu na batalha que, finalmente, aconteceu (18.14, 15). Assim, as coincidências contribuíram para a sobrevivência de David.

Quando Ben-Hadad, o rei da Síria, havia sitiado Samaria, a cidade foi privada de alimento. Eliseu predisse que no dia seguinte, a cidade de Samaria teria farinha e cevada (2Rs 7.1). O capitão permaneceu em expressa descrença, e então Eliseu predisse que ele “veria aquilo...mas...não comeria” (v. 2). No dia seguinte, aconteceu de o capitão ser atropelado, na porta, pelo povo que saiu e saqueou o acampamento atrás de alimento (v. 17). “Ele morreu, como o homem de Deus havia dito” (v. 17), vendo o alimento, mas não vivendo para participar do mesmo. Sua morte foi um cumprimento da profecia de Deus.

Quando Atalia estava prestes a usurpar o trono de Judá, ela se comprometeu em destruir  todos os descendentes da família de Davi. Aconteceu de Jeoseba estar ali, e ela pegou Joás, o filho de Acazias e o raptou e o escondeu (2Rs 11.2). Assim, a linhagem da descendência de Davi foi preservada, o que tinha de ser o caso se o Messias deveria vir da linhagem de Davi, como Deus havia prometido. Joás foi um antepassado de Jesus.

Durante o reinado do rei Josias, aconteceu de os sacerdotes encontrarem o Livro da Lei, quando eles estavam reparando os recintos do templo. Josias o tinha lido e, então ele foi estimulado a inaugurar uma reforma espiritual.

A história de Ester contém muitas coincidências. Aconteceu de Ester estar entre as jovens mulheres que foram levadas ao palácio do rei (2.8). Aconteceu de ela ser escolhida para ser a nova rainha (v. 17). Aconteceu de Mardoqueu descobrir os planos de Bigtã e Teres contra o rei (v. 23), e aconteceu de o nome de Mardoqueu ser incluído nas crônicas do rei (v. 23). A noite antes de Hamã planejar enforcar Mardoqueu, aconteceu de o rei perder o sono (6.1). Ele pediu para um assistente ler as crônicas, e aconteceu do assistente ler a parte onde Mardoqueu tinha descoberto o plano contra o rei (v. 1, 2). Aconteceu de Hamã ter entrado no pátio do rei exatamente naquele momento (v. 4). Toda uma série de acontecimentos operou para conduzir a Hamã a ser enforcado, os judeus resgatados e Mardoqueu ser honrado.

O livro de Jonas também contém eventos que agiram juntos. O Senhor enviou uma tempestade no mar (Jn. 1.4). Quando os marinheiros lançaram sorte a fim de identificar a pessoa culpada, “a sorte caiu sobre Jonas” (v. 7). O Senhor deu ordens ao peixe para que engolisse Jonas (v. 17). O Senhor deu ordem ao peixe para que a planta crescesse (4.6), ao verme que atacou a planta (v. 7), e em seguida, a ardência do sol e do “vento oriental abrasador” (v. 8).

Aconteceu de Zacarias, o sacerdote, esposo de Elisabete, ser escolhido pela sorte a oferecer incenso no templo (Lc 1.9). O tempo era extremamente oportuno, pouco antes da concepção de João Batista e da vinda de Jesus (v. 24 – 38).

Quando Dorcas morreu em Jopa, aconteceu de Pedro estar próximo em Lida (At 9. 32, 38). Aconteceu de os discípulos em Jopa ouvir que ele estava ali. Então, eles enviaram a Pedro e, como resultado, Dorcas foi trazida de volta à vida.

Quando o Apóstolo Paulo estava na prisão, aconteceu de o filho da irmã de Paulo ouvir sobre os planos dos judeus para matar Paulo (At. 23.16). Ele transmitiu a notícia ao comandante romano, da tribuna, que tinha seus soldados levado Paulo para Cesárea. Paulo foi salvo de morto por causa uma causalidade.

Poderíamos multiplicar exemplos deste tipo. A tempestade e o peixe que o Senhor enviou a Jonas podem ser considerados miraculosos, mas a maior parte temos nos concentrado sobre incidentes em que um espectador pode notar nada de extraordinário. Em cada caso, a narrativa como um todo mostra que Deus estava realizando seu propósito. Ele esta no controle desses eventos aparentemente “coincidentes”. Poderíamos listar muitos incidentes na Bíblia de tipos muito mais extraordinários, onde Deus exerceu poder miraculoso. Ele enviou as pragas sobre o Egito, dividiu as águas do Mar Vermelho, deu maná no deserto.

Vemos uma suprema exibição do controle de Deus quando olhamos algumas dos eventos aparentemente “coincidentes” durante a crucificação e morte de Jesus.

Quando Jesus foi crucificado, aconteceu de os soldados lançarem sorte para dividir suas vestes. Eles, assim, cumpriram a Escritura,

Repartiram entre si as minhas vestes, E sobre a minha vestidura lançaram sortes.” (João 19.24; Sl 22.18)

Quando Jesus morreu, aconteceu de um dos soldados perfurar um lado com uma lança, cumprindo a profecia:

Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. (Jo. 19.34)

E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram. (Jo. 19.37, citado de Zac. 12.10)

Depois da morte de Jesus, José de Arimatéia, um homem rico (Mt 27.57), levou o corpo de Jesus e o colocou em seu próprio sepulcro, que aconteceu de ser ali próximo e que estava vazio. Ele, então, cumpriu a profecia:

E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol, e o pôs no seu sepulcro novo.” (Mt 27. 59, 60)

E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte;” (Is 53.9)

Em Atos, os crentes tomaram coragem quando eles refletiram sobre como Deus tinha controlado os eventos da crucificação de Jesus (At. 4. 25 – 28). Eles oraram para que Deus continuasse a agir com poder em suas vidas:

Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus. E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.” (At. 4. 29 – 31)

Deus é o mesmo hoje. Podemos inferir que Deus está no controle em todos os eventos aparentemente coincidentes em nossas vidas. Todos nós temos de encarar eventos que não temos controles: “tempo e acaso acontecem a todos” (Ecl 9.11). É um grande conforto saber que Deus controla tais coisas, por Deus saber o que ele está fazendo. Romanos 8.28 relembra-nos que “para aqueles que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem, para aqueles que foram chamados segundo seu propósito”. Louvemos a Deus por sua majestade. E confiemos o futuro a Deus, incluindo as “coincidências” e as “causalidades”.

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Notas:
[1] English Standard Version.
[2] A Almeida 21 traduz: “por coincidência, aquela parte da plantação pertencia a Boaz”. A Almeida Fiel traduz: “caiu-lhe em sorte...”

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Fonte: POYTHRES, Vern. Chance and the Sovereignty of God: A God-Centered Approach to Probability and Random Events. Wheaton, Ill: Crossway, 2014, p. 31 – 39).
Tradução: Rev. Gaspar de Souza
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Por Robert L. Alden


A única menção de Lúcifer na Bíblia está em Isaías 14:12. As notas marginais de muitas Bíblias dirigem a atenção para Lucas 10:18, onde lemos as palavras de Jesus: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu”. Eu não aprovo tal relação e buscarei mostrar o motivo nos parágrafos seguintes. A tradução da frase helel ben shachar em Isaías 14:12 não é fácil. O bem shachar não é o problema.[1] A frase significa “filho da alva” ou similares. A estrela da manhã é o filho da manhã. O termo hebraico ben – “filho” significa algo muito próximo, dependente ou descrito pela palavra seguinte no estado absoluto.[2] Mas helel é um nome? É um substantivo comum? É um verbo? A palavra helel aparece em Zacarias 11:2 em paralelo com um verbo cujas letras radicais são yll. Assim, ambos significam “uivo” ou “berro” e são aparentemente onomatopéias. Em Ezequiel 21:12 (v. 17 em hebraico) temos uma situação similar. Ali helel é paralelo a z’q, que significa “gritar”. Jeremias 47:2 tem uma forma relacionada (hiph’il) e ali a palavra é traduzida como “lamento”. A versão síria, entre outras, entende assim a palavra em questão: “Como caíste do céu! Uivo na manhã…”.[3]

Todavia, muitos tradutores e comentaristas escolhem traduzir a palavra como um substantivo. O grego tem heosphoros e o latim lucifer. Os dois termos significam “portador de luz”. As traduções da Septuaginta e da Vulgata, juntamente com os principais rabinos e a maioria dos antigos escritores cristãos entendiam a palavra como um derivativo de hll, “brilhar”. Por conseguinte, ela significa “aquele que brilha” ou “aquele que resplandece”. Isso, sem dúvida, se encaixa melhor com o restante da frase ben shachar, “filho da alva”. 

Tertuliano, comentando sobre Isaías 14:12, disse: “Isso deve significar o diabo…”.[4] Orígenes, também, prontamente identificou “Lúcifer” com Satanás.[5] OParaíso Perdido de John Milton contribuiu para a disseminação dessa noção errônea:

               … Cidade e corte do infernal tirano,
               Que Lúcifer chamado foi outrora
               Por se lhe assemelhar da tarde a estrela… [6]

Disso surgiu a perversão popular do belo nome Lúcifer para significar o Diabo.[7]

O argumento para entender helel como uma forma substantiva derivada do verbo significando “brilhar” é forte. Pelo menos três idiomas semíticos em adição ao hebraico têm uma forma dessa palavra e todas significam “brilho” ou “luz”. Há o acadiano ellu, o ugarítico hll e o árabe halla. “Lua nova” em árabe é hilal.[8] A forma feminina do acadiano é ellitu e é um nome para a deusa Ishtar. Ela é chamada também de mushtilil, “aquela que resplandece”.[9] Ela é Ashtar em fenício e ugarítico.[10] Os árabes chamam Vênus de zahra, “o brilho resplandecente”.[11] Considere também o germânico Helle, “brilho”.

Há uma observação adicional com respeito à estrela da manhã e a deusa.[12] Isaías 14:12 tem “filho” da manhã, não um feminino como esperaríamos. Além do mais, a tradução grega é uma palavra masculina.[13] Como sabemos agora, as estrelas da manhã e da noite são as mesmas, embora os antigos semíticos viam-nas como gêmeas. Albright julga a partir da evidência acadiana que esse deus era originalmente bi-sexual, sendo macho de manhã e fêmea de noite.[14] Na literatura ugarítica os nomes das crianças seduzidas pelo deus El são shchr e shlm.[15] Dessa forma, elas representam o nascer-do-sol e o pôr-do-sol. Temos sacharem árabe, seru em acadiano e sachra em aramaico para a manhã e shalam shamshi em acadiano para a noite.[16] A palavra germânica “Morgenröte” pode descrever melhor shachar, sendo ela aquele breve momento antes do romper da aurora.[17]

Por causa da conexão das palavras em Isaías com aquelas que descrevem a mitologia não-israelita, muitos têm sido rápidos em fazer a associação. Eissfeldt, por exemplo, diz que isso e Ezequiel 28:1-19 sobressaem excepcionalmente como mitos reais, isto é, eles não foram transformados ou convertidos ao padrão de pensamento teológico hebraico.[18] Tal conexão é desnecessária. Primeiro, não temos nenhuma evidência de uma história do Oriente Médio lidando com a rebelião de um deus mais jovem contra um deus principal. Em segundo lugar, Isaías poderia muito bem ter feito referência à glória da alva e usado à estrela da manhã para ilustrar seu ponto puramente em e de si mesmo.

Discutimos o significado das palavras helel ben shachar e descobrimos ser melhor traduzi-las como “aquele que brilha, filho da manhã” ou similares. “Lúcifer” é perfeitamente bom também (especialmente para o povo de fala latina), exceto pelo fato de ter sido mal-interpretada tão grandemente que é melhor evitarmos a mesma.

Mas a pergunta permanece – por que isso não pode ser o Diabo? Consideremos o contexto. Os capítulos 13 e 14 de Isaías lidam com Babilônia. Lemos em Isaías 13:1: “O oráculo com respeito à Babilônia, que viu Isaías, filho de Amós”. O capítulo 13 lida com a nação como um todo. O versículo 19 resume o capítulo:

E Babilônia, o ornamento dos reinos, a glória e a soberba dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou.

O capítulo 14 abre com as palavras confortantes em prosa à casa de Jacó (vv. 1-3). Então Deus os instruiu a cantar esse cântico sarcástico contra o rei da Babilônia (v. 4). Os versículos 7 até o 20 são um lamento zombeteiro. Primeiro as terras regozijam-se, especialmente as árvores, pois o lenhador não vem mais cortá-la – isto é, o rei está morto. O inferno é o cenário dos versículos 9-26. O fantasma daqueles que já estão lá expressam surpresa diante dos recém-chegados. “Tu também”, dizem eles (v. 10). O versículo 12 é uma citação dos indivíduos no inferno.

               Como caíste desde o céu,
               ó Estrela da Manhã, filho da Alva!

Eles continuam, lembrando o rei das suas ostentações de igualdade e mesmo superioridade a Deus, mas conclui observando que sua morte foi muito vergonhosa, tendo sido “lançado da tua sepultura…”. Resumindo, esse lamento nos fala da queda de uma Babilônia tirana. Seu reino de terror terminou e ele não deve ser mais temido. Isso descreve Satanás também? O acusador caiu de uma posição de poder? O adversário cessou de governar o mundo com “golpes incessantes e perseguição dura” (v. 6)? Pelo contrário, Satanás tem muito poder. Ele é o deus deste mundo (2Co 4:4) e o príncipe do poder dos ares (Ef 2:2). Em nenhum sentido ele caiu de uma posição de reinado neste mundo. O rei da Babilônia se foi e não é mais ouvido. Não é assim com Satanás! Sua “queda” marcou o início do seu reinado perverso. A queda do rei da Babilônia marcou o fim do seu reinado perverso. Lúcifer não pode ser Satanás. Isaías não está falando de Satanás no capítulo 14.[19]

Antes de concluir, seria interessante examinar as expressões bíblicas relacionadas a isso em Isaías 14:12.[22] Estrelas e em particular a estrela da manhã (que é na verdade um planeta) são algumas vezes usadas para o Messias, bem como para Satanás. Em Números 24:17b lemos: uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel.

Lemos em 2 Pedro 2:19: “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações”. Ao anjo da igreja em Tiatira, João foi ordenado a escrever o seguinte (Ap. 2:28): “E dar-lhe-ei a estrela da manhã”. Apocalipse 22:16 é mais conclusivo: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã”.

Não negamos a conexão de Satanás com a luz. Nem negamos que ele teve um certo tipo de queda.[23] Observe Lucas 10:18 novamente: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu”. Em adição, encontramos 2Co 11:14: “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz”. Em nenhum desses exemplos a luz é algo mau. No último o termo é especialmente algo bom. No livro apócrifo de Eclesiásticos (50:6), lemos que Simão o filho de Onias era “como a estrela da manhã no meio de uma nuvem e como a lua nos dias de lua cheia” quando ele saiu do santuário. Finalmente, havia o falso messias Bar Kochba. Seu nome significa “filho de uma estrela”.

Para resumir e concluir, observemos simplesmente esses fatores salientes. Lúcifer é perfeitamente uma boa tradução de hll em Isaías 14:12. O significado “portador de luz” ou “estrela da manhã” é apropriado. Mas o capítulo lida somente com a queda do rei de Babilônia e esse versículo em particular. Que Satanás inspirou o rei perverso enquanto ele governava todos os homens degenerados é inegável, mas isso é muito diferente de dizer que Lúcifer é Satanás. A estrela da manhã é algo belo de contemplar e tem uma tarefa mui notável nos céus, aquela de anunciar o novo dia. O rei ostentava ser tão grande quanto Deus, e Isaías assemelha o mesmo àquela estrela que é bela por um momento, mas rapidamente é eclipsada pela glória do próprio sol. Que Satanás fez tal ostentação não é conhecido.[21] Não temos justificativa para tal identificação aqui, assim como não temos em Ezequiel 28, onde o rei de Tiro está em vista. Lúcifer é somente o arrogante, porém agora caído rei da Babilônia.

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Notas:
1. Although Winckler (Geschichte Israel, ii, 24) sugere shahar para shachar; por consguinte, “filho da lua”. A palavra aparece em Judas 8:21, 26 e Isaías 3:18.
2. Cf. Is. 5:1, “uma colina muito frutífera” é literalmente “um chifre do filho do oleo”.
3. George M. Lamsa, The Holy Bible from Ancient Eastern Manuscripts (Philadelphia: Holman, 1957).
4. Against Marcion, Bk. V, ch. xviii (em The Ante‐Nicene Fathers, ed. Alexander Roberts and James Donaldson [Grand Rapids: Eerdmans, 1951], Vol. III, p. 466).
5. De Principiis, Bk. 1, ch. v (em Ibid. Vol. IV, p. 259).
6. (Chicago: Homewood Publishing Co.) p. 364s.
7. Cf. Joseph Addison Alexander, Commentary on the Prophecies of Isaiah (Grand Rapids: Zondervan, 1963 [originalmente publicado em 1865]), p. 295.
8. Lexicon in Veteris Testamenti, ed. Ludwig Köhler and Walter Baumgartner (Leiden: Brill, 1951).
9. H. Skinner, Isaiah I‐XXXIX em Cambridge Bible for Schools and Colleges ed. A. F. Kirkpatrick (Cambridge: University Press, 1954), p. 122.
10. P. Grelot, “Sur la Vocalisation de hyll (Is. XIG 12)” em Vetus Testamentum, 6 (1956), pp. 303s.
11. Edward J. Young, The Book of Isaiah (Grand Rapids: Eerdmans, 1965), Vol. I, p. 440n.
12. Gunkel foi o primeiro a igualar helel com a estrela da manhã. Veja seu Schoplung und Chaos im Urzeit und Endzeit (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2nd ed. 1921), pp. 255s.
13. Franz Delitzsch, Isaiah I in Commentaries on the Old Testament, trans. James Martin (Grand Rapids: Eerdmans, 1950), pp. 311s.
14. Archaeology and the Religion of Israel (Baltimore: Johns Hopkins, 1953), pp. 83s.
15. Há também um ben ’bd shchr numa lista de nome em 308 1, 19 de acordo com o catálogo de Gorden.
16. Cf. Young, Ibid. and Theodor H. Gaster, “A Canaanite Ritual Drama: The Spring Festival at Ugarit,” em Journal of the American Oriental Society, LXVI 1946, pp. 69ss.
17. Cf. Ludwig Köhler, “Die Morgenröte im Alten Testament,” em Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft, 4 (1926), pp. 56ss.
18. The Old Testament: An Introduction, trans. P. R. Ackroyd (New York: Harper & Row, 1965), p. 36. Cf também Brevard S. Childs, Myth and Reality in the Old Testament (Naperville, Ill.: Alec Allenson, 1960), p. 68; Gottfried Quell, “Jesaja 14, 1–23,” em Erlanger Forschungen Reihe A, Band 10 (Erlangen: Rost, 1959 [Festschrift Friedrich Baumgärtel]), pp. 150–53; Julian Morgenstern em Hebrew Union College Annual 14 (1939), pp. 109ss; e Edmond Jacob, Theology of the Old Testament, trans. A. W. Heathcote & P. J. Allcock (London: Hodder & Stoughton, 1958), p. 327s.
19. Nem Ezequiel em Ezequiel 28 quando a queda do rei de Tiro está em vista.
20. Cf. também João 8:44, “… o diabo…um homicida desde o princípio…”.
21. Cf. Ap. 12:8–9.
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Sobre o autor: Robert L. Alden foi professor Assistente de Antigo Testamento, Seminário Batista Conservador, Denver, Colorado.

Fonte: Bulletin of the Evangelical Theological Society 11:1 (Winter 1968):35-39.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto. Traduzido em agosto de 2008.
Via: Monergismo

domingo, 24 de maio de 2015


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Por Filipe Castelo Branco


Introdução

Sabemos que o fim principal do homem é "glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" (BCW p.1). É muito claro para nós, ao lermos as Escrituras, que este é o motivo de nossa existência. Por isso fomos criados, para darmos louvores e glórias ao nome do Cordeiro (Ap 5.13). É tanto que, mesmo no comer e no beber devemos glorificá-Lo (1Co 10.31). Por que não dizer, no deitar e no levantar? Mas, o que é preciso para adorar a Deus? O que é extremamente necessário? Restringindo aqui ao culto público, seria os instrumentos? Ou um grupo de louvor? Então, se estivermos num lugar sem instrumentos musicais, como ficaria? Conseguiríamos louvar ao Senhor nesta situação? Sabemos que sim. A adoração parte do coração, os instrumentos servem de auxílio para o cântico ao Senhor. Mas, o que realmente é necessário para louvar a Deus? Pois sabemos que podemos louvar sem instrumentos, até mesmo em silêncio! 

Listarei abaixo 7 coisas essenciais para a adoração. Coisas que, ao contrário dos instrumentos, não podem faltar durante o culto particular, familiar e público. São básicas!

1. Fé

Lemos em Hebreus 11.6 o seguinte:

"De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam."

O texto é claro: sem fé É IMPOSSÍVEL agradar a Deus. A palavra agradar na "parte a" do versículo é claramente subtendido que significa glorificar a Deus. Nós apenas agradamos a Deus quando O glorificamos, cumprindo e vivendo de acordo com a Sua palavra. Consequentemente, louvamos e glorificamos ao Senhor quando vivemos uma vida cristã piedosa. Assim sendo, O louvamos quando O agradamos. 

Vemos que não há chances de existir adoração sem fé. A fé precede a adoração. O culto de adoração é um ato de fé, que apenas é possível por causa da Graça de Deus que aos eleitos imputou a fé, abrindo assim os olhos destes para que compreendessem do porquê adorá-lo e como adorá-lo. Este é o motivo pelo qual os ímpios não desejam e nem conseguem adorar a Deus, pois não existe fé neles, não havendo nada em suas vidas que agradem ao Senhor. Eles estão mortos em seus delitos e pecados, sendo assim escravos, filhos do Diabo e FILHOS DA IRA de Deus (Ef 2.23). Como mortos podem adorar a um Deus vivo? Herminsten Maia coloca da seguinte maneira sobre a fé: "Sem a genuína fé, procedente da Palavra e direcionada para o Deus Trino, todos os nossos atos de culto são vazios e abomináveis a Deus." Nos achegamos a Deus para adorá-lo por causa da fé. Nós apenas conseguimos nos aproximar de Deus porque um dia Deus se aproximou de nós e nos salvou, imputando-nos a fé. É impossível cultuar a Deus sem fé!

2. Inteligência

Calma, pelo tópico você pode estar achando que os burros (não o animal, gente burra mesmo) não são capazes de adorarem a Deus. Não é bem assim. A palavra inteligência aqui está no sentido lato da palavra. Sentido este que digo ser necessário inteligência e raciocínio na adoração. O culto não é regado simples e puramente de emoção, mas a própria emoção no momento do culto provém do nosso intelecto. E ela conta para a nossa adoração, o nosso culto a Deus. 

O problema da maioria dos cristãos de igrejas emergentes é a "emoção a flor da pele", quando a emoção é tão forte, mas tão forte, que eles deixam de usar a inteligência e esquecem que estão adorando a Deus, passando a agir como se estivessem numa piscina de bolinhas (se jogando para um lado e para o outro) ou até mesmo numa casa de shows. Do mesmo modo que a emoção não pode se exceder, o ritual também não pode. Pois do que adianta um culto extremamente formalístico, 100% de acordo com a Escritura se é algo sem vida, monótono e cansativo? Foi disto que o Senhor Jesus falou acerca da adoração israelita, pois eles honravam a Deus com os lábios e com as mais perfeitas formas de culto, seguindo todo o manual, mas os seus corações estavam distantes de Deus. Não havia uma emoção genuína, um puro louvor (Mc 7.9). Tudo é equilíbrio! Tanto a emoção como o ritual devem andar juntos! E ambos exigem inteligência. Muitos agem como animais, sem qualquer resquício de inteligência. Deus nos adverte para que não sejamos como os animais, cavalos e mulas especificamente ( Sl 32.9), mas para que usemos a inteligência dada por Ele para prestar o louvor que Lhe é devido. Como usar a inteligência? Lendo a Escritura, aprendendo por ela princípios de como adorar de forma inteligente e equilibrada ao Deus que nos chama a não O adorarmos como animais, mas como seres criados a Sua imagem e semelhança (Gn 1.26), providos de inteligência.

3. Visão espiritual

Os verdadeiros adoradores, chamados por Deus para que O adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23), não adoram apenas quando estão entre quatro paredes. Andrew Murray diz que: "O grande propósito para o qual o Espírito Santo está dentro de nós é para que adoremos em espírito e em verdade." A visão de culto é abrangente, não restrita. Se é em espírito, vai muito mais além de algo material. Como dito na introdução, os adoradores entendem que a vida, quando vivida de forma piedosa, é um culto a Deus. Entendem que ao terminar a liturgia do culto, inicia-se a liturgia da vida. "A verdadeira adoração", diz Herminsten Maia, "vem do coração, sendo efetuada de forma consciente para Deus (Cl 3.23)." Compreendendo isto, vemos que a visão espiritual é essencial para a verdadeira adoração, pois desta forma o nosso culto não estará confinado apenas a um lugar específico, mas a todo e qualquer lugar que estivermos (Jo 4.10-24).

4. Experiência espiritual

No primeiro ponto foi visto que a fé precede a adoração. Ou seja, apenas os salvos pela Graça adoram. Vimos também que os não-regenerados não adoram por serem inimigos de Deus e mortos, pois mortos não adoram. Mas também há outro motivo. É claro que, antes de tudo, devemos louvar a Deus por Ele ser simplesmente Deus. Mesmo que Deus não tivesse decidido salvar a raça humana de Sua condenação, escolhendo um povo para Si, Ele por si só, simplesmente por ser quem é, merece a nossa adoração. Como no Salmo 105.3, adorar é gloriar-se "no seu [de Deus] santo nome." Mas nós, regenerados pelo Santo Espírito, louvamos a Deus não apenas por Sua grandeza e santidade, mas por nos alegrarmos na Sua salvação (Sl 9.14). Louvor, basicamente, significa elogio. Por isso as músicas na igreja, durante o culto público, devem ser cristocêntricas, pois devem elogiar a Deus e Seus feitos, não aos homens e seus pequenos feitos. Gosto de uma frase de Agostinho que diz: "As melhores ações do homem natural são apenas pecados espetaculares." Esta é a situação de um não-regenerado. Como uma pessoa, que não teve nenhuma experiência espiritual, a experiência de ter nascido de novo em Cristo, pode louvar/elogiar a Deus? É certo que não podemos louvar a Deus sem primeiro sermos salvos. Mas quando salvos, não há nada mais prioritário do que entoarmos louvores a Deus, dando glórias a Ele por Sua grande Graça e Misericórdia em nos salvar e livra-nos da ira vindoura.

5. Confiança

No culto, para se aproximar de Deus, é necessário confiança. Como ficar diante de um Deus Santo se, mesmo salvos, ainda temos o pecado habitando em nós? Em Hebreus 4.16 lemos: "Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno." Isto é perfeito! Deus diz que podemos nos achegar confiadamente perante o Seu trono, trono este que emana Graça, Misericórdia e auxílio! Nós só temos confiança, pois Cristo nos concede esta confiança tornando-nos filhos de Deus. Cristo é a lente pela qual Deus nos vê, enxergando nós como: justos, santos e sábios. É apenas por isso que nos aproximamos confiantes. Pois antes éramos inimigos, hoje somos filhos. Timothy Keller, na última conferência do The Gospel Coalition, expôs isto de forma fantástica: "A única pessoa que se atreve em acordar um rei às 3 horas AM para um copo de água é o filho. Temos este tipo de acesso." Tudo isto por causa de Cristo! Ele nos tornou filhos de Deus! Aleluia! "Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;" (João 1.12). Por isto, tenhamos confiança!

6. Unidade

A unidade é uma das grandes marcas do cristianismo. No livro de Atos vemos não só a igreja adorando em unidade ao Senhor (Atos 4.24) como sendo unida em sua vida cotidiana (Atos 4.32), compartilhando tudo o que tinham, tendo assim tudo em comum. Deus une também nações, tribos, povos e línguas (Ap 7.9) para que sejam Seus filhos e O adorem. Dentre estas especificações do versículo 9 de Apocalipse, podemos incluir também a cultura. São pessoas de costumes, vestimentas e gírias diferentes. São negros, pardos, morenos e brancos. Deus tem uma diversidade enorme de filhos, que são amados da mesma forma, e chamados a adorarem da mesma forma. Existe maior exemplo de unidade do que a igreja? A adoração do culto público deve ser também em unidade. Lloyd-Jones, fazendo uma aplicação acerca do culto público, comenta:
"Louvor cristão é isso, e nos envolve a todos. Portanto, Paulo não pode estar falando sobre a congregação ficar sentada e ouvindo o belo cântico de um coral. Isso é quase diretamente o oposto do que ele está dizendo. Todavia, é a isso que chegamos. É pior quando o canto é executado por um coral pago, e pior ainda quando os membros do coral pago ou do quarteto especial nem cristãos são, mas são introduzidos na igreja porque têm boa voz. Às vezes, neste país, e mais frequentemente noutros, eles chegam ao culto justo na hora de cantar, e logo depois se retiram!"

Lloyd-Jones não comentou nenhuma novidade sobre não-cristãos que são convidados para conduzirem ou apresentarem louvores ao Senhor na igreja. Existem dois problemas bastante sérios nesta realidade. Primeiro: filhos de Deus se unindo aos filhos do Diabo para em uma só voz entoarem louvores a Deus? É quase que uma traição! Segundo: como ímpios louvam a Alguém que têm como inimigo? Eles cantam diante do trono do próprio Deus, fingindo estarem louvando com suas belas vozes e seus semblantes alterados pela emoção da melodia, enquanto têm seus bolsos cheios de dinheiro em troca desta adoração hipócrita. Que afronta! Mal sabem que Deus rejeita a adoração do ímpio e todos os falsos louvores e que os castigará severamente por causa disso! Então, isto é a unidade na igreja: É o POVO DE DEUS (apenas o salvos pela Graça), reunidos em UMA SÓ VOZ (de toda nação, tribo, povo, língua e de todas as idades), entoando louvores ao Deus que é UNO EM SUA ESSÊNCIA (Trindade).

7. Carência

Vemos em Romanos 3.23, na Nova Versão Internacional (NVI) que "todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus". Mas na João Ferreira de Almeida lemos que "todos pecaram e CARECEM da glória de Deus." O sentido é o mesmo, pois, estar destituído de algo, ou como outras vezes colocam, privado, é estar CARENTE desta coisa. Então, o homem está distante de Deus, apartado, privado, carente da Glória dEle. 

Sabemos que este versículo aplica-se ao não-regenerado. Mas ao mesmo tempo ele se aplica a nós também, Sua igreja. Pois quando foi que, mesmo salvos, deixamos de carecer de Cristo para sobreviver? A própria oração é uma prova de que mesmo não estando nós mais afastados de Deus, nós ainda (e SEMPRE) precisamos de Deus para ter vida. R. C. Sproul, em minha opinião o maior teólogo presbiteriano vivo, diz que "A oração é para o cristão o que a respiração é para a vida, mas nenhum outro dever é tão negligenciado." Em média, o ser humano consegue ficar sem respirar por uns 25 segundos - quando mergulhamos por exemplo. O maior recorde até então foi de um dinamarquês que ficou 22 minutos sem respirar. Com este tempo, eu estaria morto faz muito tempo. Mas a conclusão que chegamos é que mesmo que alguém consiga em algum momento ficar um dia sem respirar, não importa o recorde: ninguém consegue ficar sem respirar por toda a vida. Por isto Paulo nos ordena a orar sem cessar (1 Ts 5.17), viver em espírito de oração, pois nós não conseguimos viver sem falar, sem estar em comunhão com o Deus vivo. Somos totalmente carentes da Glória, do Amor e da Graça de nosso Senhor Jesus. Não há vida fora de Cristo, pois Ele mesmo diz ser o caminho, a verdade e a vida, ficando assim claro do porquê que todos que não tem Cristo, por não crerem no Autor da vida, estão mortos!

Encerrando, você se caracteriza como um adorador segundo os padrões bíblicos? Perceba o quão necessários são estes pré-requisitos. Mas graças a Deus que nós, filhos de Deus, temos auxílio do Espírito Santo para que todas estas coisas sejam aprimoradas, dia após dia em nossas vidas. Busquemos ao Senhor, para que nos tornemos cada vez mais verdadeiros adoradores

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Sobre o autor: Filipe Castelo Branco prega o evangelho em ônibus e favelas. É membro da Igreja Presbiteriana da Aldeota (IPB) em Fortaleza/CE. Coordenador de Evangelismos na Academia de Formação em Missões Urbanas.

Fonte: Blog do autor