por Silas Daniel
A falácia de que Dilma mudou de posição sobre o aborto e o vergonhoso discurso de Edir Macedo
Ontem, Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência da República, em debate promovido pela CNBB com os presidenciáveis, tergiversou, tergiversou, mas não conseguiu esconder que defende, sim, na prática, a descriminalização do aborto. Na ocasião, disse Dilma que “a vida é um valor que nós, seres humanos, temos que respeitar” e que ela é “pessoalmente não favorável ao aborto”, mas que, apesar disso, defende que o aborto seja tratado como “questão de saúde pública” e enfatizou que ela iria “defender as mulheres”. Ou seja, o mesmo discurso de sempre, que parafraseio e sintetizo a seguir: “Ninguém gosta de abortar e eu sou pessoalmente contra o aborto, mas o aborto deve ser descriminalizado independente do que eu acho sobre ele, porque é questão de saúde pública”. Não, aborto não é questão de saúde pública. É assassinato! Aborto não é preocupante porque é uma agressão ao corpo da mulher, mas porque é um assassinato à criança no ventre dela. Quem é contra o aborto não defende as mulheres que querem abortar, defende a vida no ventre delas. Se pessoas cometem esse crime usando agulhas de crochê, isso não significa que o Estado deve dar-lhes condições de cometer o crime de forma mais sofisticada.
Diante do clima de desaprovação da platéia pelo que já havia dito sobre a questão, ao ser confrontada de forma direta com a pergunta se ampliaria ou não os casos em que o aborto é permitido na legislação brasileira, a petista suavizou o discurso pró-aborto, dizendo: “Não vejo muito sentido em ampliar os casos”. A pancada viria na sequência, quando foi a vez de a evangélica Marina Silva, candidata pelo PV, responder sobre o assunto. Uma das primeiras coisas que disse foi: “Não faço discursos diferentes para plateias diferentes”, em uma referência clara a Dilma. Pela primeira vez no debate, o público se manifestou em ovações.
Mas, para quem ainda se deixa levar pela falácia de que Dilma não é favorável à legalização do aborto, eis mais informações:
1) Em entrevista à revista Marie Claire, edição de abril de 2009, Dilma defendeu a legalização do aborto abertamente: “Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização”.
2) Em 7 de maio deste ano, em entrevista dada ao Encontro de Editores 2010, promovido pela revistaIstoé, ao responder a uma pergunta da jornalista Gisele Vitória, diretora de redação da revista Gente, sobre o aborto, afirmou Dilma: “O aborto é uma agressão. Ao corpo. (…) O aborto, do ponto de vista de um governo, não é questão de foro íntimo, é uma questão necessariamente de saúde pública. Tem que ser seriamente conduzido dessa forma. (…) Sou a favor de uma legislação que obrigue a ter tratamento para as pessoas, atendimento público para quem estiver em condições de fazer o aborto ou querendo fazer o aborto”. E citou como exemplo o que ocorre “nos países desenvolvidos do mundo inteiro”, numa referência aos Estados Unidos, que descriminalizaram o aborto, via Suprema Corte, em 1973; e à boa parte dos países europeus, que fizeram o mesmo já faz alguns anos. O vídeo com esse trecho da entrevista de Dilma pode ser acessado aqui.
3) Ao sair de uma missa em São Paulo em 15 de maio, Dilma afirmou que a legalização do aborto no Brasil é algo que tem que ser feito independente de sua opinião pessoal sobre o assunto. “Não é uma questão se eu sou contra ou a favor, é o que eu acho que tem que ser feito”, asseverou. Na mesma entrevista, cometeu a gafe de comparar o assassinato de uma criança no ventre de sua mãe com arrancar um dente: “Não acho que ninguém quer arrancar um dente, e ninguém tampouco quer tirar a vida de dentro de si”.
4) O programa original de governo de Dilma Rousseff entregue ao TSE no início de julho traz a proposta de legalização do aborto, afirmando que “o Estado brasileiro reafirmará o direito das mulheres de tomarem suas próprias decisões em assuntos que afetem o seu corpo e a sua saúde”. Após ser criticada por isso, seus assessores mudaram o texto do programa neste ponto, bem como em outros pontos no mínimo polêmicos que foram ressaltados pela imprensa à época.
5) Finalmente, lembremo-nos do Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (publicado em 21 de dezembro de 2009 e que foi redigido, como todo decreto presidencial, na Casa Civil, então conduzida pela ministra Dilma Rousseff), que defendia abertamente a legalização do aborto no Brasil. Em sua Diretriz 9, afirmava o Programa que o governo federal se comprometia a “apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos”. Aproveitando: é a maior falácia defender o aborto lembrando que a mulher deve ter autonomia sobre seu próprio corpo, porque tal princípio não se aplica ao caso do aborto, posto que a criança no ventre de sua mãe não é o corpo dela, mas um outro corpo dentro do corpo dela. É uma outra pessoa dentro dela, que tem tanto direito à vida quanto sua genitora.
Bem, ainda sobre o tema aborto, não poderia deixar de mencionar o vídeo que circula na internet já há alguns dias em que Edir Macedo, líder da Igreja Universal, defende abertamente a legalização do aborto. O vídeo pode ser assistido aqui. Recentemente, o pastor e amigo Ciro Zibordi escreveu excelente texto neste site criticando esse discurso bizarro de alguém que se intitula cristão e líder cristão (leia aqui). Além do que o irmão Ciro já pontuou, indico aos queridos leitores que assistam, logo depois de assistirem ao vídeo do discurso abortista de Macedo, a esses importantíssimos vídeos: o excelente documentário de apenas meia-hora O Grito Silencioso (veja-o em três partes: a primeiraaqui, a segunda aqui e a terceira aqui) e o depoimento tocante de uma jovem cristã que conta como foi abortada por sua mãe, mas sobreviveu (assista-o em duas partes: a primeira aqui e a segundaaqui). Não deixe de assisti-los e de mensurar, após fazê-lo, o quanto são ignóbeis as palavras do senhor Macedo.
Fonte: CPADNews